Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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grande ímpeto, que no mar são colhidas águas doces pelos marinheiros, como se jorrassem de uma fonte. Junto ao litoral se encontram lagos que, vizinhos e quase contíguos ao mar, têm não obstante as águas muito doces. Também, poços cavados há poucos anos, junto da praia e onde atinge a agitação do mar, dão águas potáveis e doces, por uma desconhecida e misteriosa comunicação dos veios. Donde, filtradas e expurgadas de toda salsugem, podem-se perfeitamente beber; conquanto inferiores às das fontes, servem todavia para os misteres domésticos. Nos remotos sertões, certos regatos, oriundos dos lagos, são doces no inverno e um pouco salgados no verão, porque as águas paradas são aquecidas pela contínua presença do sol.Esta terra é formada pelo diverso capricho da natureza. Onde se estende sem limites, em planícies, como o solo fértil, pesado, mui pingue e irrigado, que os lusitanos denominam Vergea , é rico em muitos frutos; reproduz com muito lucro todas as sementes a ela confiadas, mormente as canas de açúcar. Os campos soalheiros reverdecem abundantemente, não tanto no verão, mas sobretudo nos meses chuvosos (embora então a terra pareça mais triste aos habitantes), e os prados que não dão colheita viçam com as pastagens. O trigo e o centeio germinam muito rapidamente pelo perpétuo calor do sol a pino e pela benignidade da terra. Esta, por conseguinte, deve ser muito revolvida (pois nunca precisa de descanso) e, ajuntando-se-lhe mais areia do que estéreo, torna-se mais apta a produzir frutos. De outro modo, a germinação, excessivamente apressada, queima-se ou se esgota. Devem retardar a maturação os que esperam produção de sementes exóticas e das que por muito tempo devem conservar-se na terra, para que as plantas não fiquem cobertas de folhas em excesso, mostrando-se depois sem grãos e sementes, e frustrando assim a esperança e os desejos dos lavradores. Devem lançar-se à terra as plantas e as sementes em fevereiro e março, precisamente quando a estação úmida sucede ao fim do verão. Deve fazer-se uma e outra cousa ao cerrar da noite, não de dia ou já noite alta. Todas as sementes que os lavradores enterram mais profundamente, aonde não atingem os raios solares, são expostas