História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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trução de engenhos e à plantação de cana e de mandioca, porque o Governador reacendia a esperança de todos e de modo algum desesperava da República. Portanto, a ele, como outrora a República Romana a Varrão, deve-lhe agradecimentos também a nossa.

Funda o Conde a cidade de Maurícia, dando-lhe o seu nome.

Ligou o Conde, por uma trincheira, a ilha de Antônio Vaz com o forte das Cinco Pontas ou de Frederico. Águas estagnadas e moitas de arbustos davam aspecto desagradável a todo esse espaço. Ultrapassava, pois, a credibilidade humana que se pudesse fundar ali uma cidade. Agora, porém, acreditamos, pelo testemunho dos nossos próprios olhos, tê-la erigido a diligência de Nassau, dotado de engenho e audácia para tentar, com sua arte e trabalho, ainda mesmo o que proibira a natureza.Repartida em ruas, praças e canais, como as cidades, com belos edifícios, dotada de armazéns de mercadorias, já tem habitantes. Foi-lhe dado o nome de Mauriciópole pela pública autoridade do Supremo Conselho, dos escoltetos e dos escabinos. Também Alexandria, Constantinopla e Colônia tomaram sua denominação respectivamente de Alexandre, Constantino e de Agripina [^nota-229]. Levantado um templo bastante decente na nova cidade, pela liberalidade da Companhia, do Conde e de particulares, consagraram-se a Deus, num movimento piedoso, os primórdios de Mauriciópole, os corações e a fortuna do povo.Esta cidade e Friburgo pregoam, aquém do Capibaribe, a magnificência do Conde, como também o palácio da Boa vista, assim chamado por causa da amenidade do seu sítio, pois em nenhuma outra parte encontrava Maurício prazer, quando descansava e sempre que convinha. Aí meditou ele planos de grandes tentames.

Constrói duas pontes.

Além disso, construiu duas pontes, uma sobre o Beberibe, entre Recife e Maurícia, a outra entre esta e o continente, sobre o Capibaribe. Em verdade, não diferimos dos antigos na arte militar: César nas Gálias lançou duas pontes sobre o Arar [^nota-230] é na Germânia uma sobre o Reno, e o imperador Trajano outra sobre o Danúbio.O que determinou a construção destas pontes foi o seguinte: sob o domínio do rei de Espanha, governando o Brasil Albuquerque [^nota-231], discutiu-se muitas vezes se convinha abandonar-se Olinda, distante do porto e do acesso ao mar, transferindo-se os seus moradores para o Recife e para a ilha de Antônio Vaz. Para este fim, seria de grande vantagem unir-se a ilha ao Recife, por se julgarem estes lugares inexpugnáveis por causa dos rios que os cercam e da vizinhança do Oceano. Ficou, porém, suspenso, sem