História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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lado, as planícies do continente e, de outro, a vastidão dos mares, com os navios aparecendo desde longe. Idôneas para atalaia e para se vigiarem de dia os salteadores, ainda por esta serventia merecem o gabar-se-lhes a beleza e necessidade. Diante do palácio e como surgindo do Beberibe, estende-se uma bateria toda de mármore, que comporta dez peças para segurança do rio. Não deixarei de dizer também que no parque existem poços distantes dos rios três varas das nossas ou pouco mais. Rodeados de águas salgadas, abastecem os moradores com abundância de águas doces, ou porque a grande firmeza do solo não permite que penetrem as águas salgadas, ou porque estas, filtrando-se através da terra, perdem a salsugem, ou porque estes poços brotam de lençol mais profundo que o leito dos dois rios. São eles de grandíssima utilidade, porque não se podem buscar fora águas doces em razão de estarem rodeadas de inimigos. Entretanto, o que é mais de admirar é encontrarem-se no sertão, já bem longe do litoral, poços de água salgada.Contém esse mesmo parque três piscinas amplíssimas, providas de todo o gênero de peixes, conforto valiosíssimo para a população, quando falta mantimento. No primeiro trimestre após serem cavados esses viveiros, foi tão copiosa a pescaria, que três lanchas mal bastavam para o transporte dos peixes, além daqueles que a liberalidade do Conde cedeu aos soldados. Há outros viveiros ainda nos limites do parque, mesmo no rio, fechados por cercas, os quais fornecem larga cópia de peixe, na maré ascendente.. Mais de uma vez já aconteceu que uma só pesca rendeu aos donos cem florins, lucro bastante avultado.Ainda hoje Pompéia, em seu esplendor, o palácio de Friburgo, protegendo a ilha de Antônio Vaz e deleitando os cidadãos, como perene monumento da grandeza nassóvia no outro hemisfério. É certamente admirável quanto estas construções e edifícios abalaram a confiança que tinham os portugueses, aumentando a dos nossos, que tem boa opinião da estabilidade dessas nossas conquistas, por verem Nassau engrandecê-las com tamanhas despesas e feitas do seu bolso. Só os desesperados, com efeito, largam mão do interesse público, deixando perder-se por negligência a República, que presumem ligada à sua sorte deles e digna por isso de se perder. Aqueles que o medo inspirado pela chegada da esquadra espanhola havia abatido, cobraram ânimo com as edificações de Nassau, a quem acima de todos importava não sofresse o Brasil dano algum. O povo aplicou-se por isso mais ativamente à cons