História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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ilha, em pontões lançados através dos rios. Acolheu a terra amiga as mudas, transplantadas não só com trabalho, mas também com engenho, e tal fecundidade comunicou àquelas árvores anosas, que, contra a expectativa de todos, logo no primeiro ano do transplante, elas, em maravilhosa avidez de produzir, deram frutos copiosíssimos. Já eram setuagenárias e octogenárias e por isso diminuíram a fé do antigo provérbio: "árvores velhas não são de mudar". Foi coisa extraordinária ter cada uma delas dado frutos que valiam oito rixdales [^nota-223]. Depois do coqueiral, havia um lugar destinado a 252 laranjeiras, além de 600, que, reunidas graciosamente umas às outras, serviam de cerca e deliciavam os sentidos com a cor, o sabor e o perfume dos frutos. Havia 58 pés de limões grandes, 80 de limões doces, 80 romãzeiras e 66 figueiras. Além destas, viam-se árvores desconhecidas em nossa terra [^nota-224]: mamoeiros, jenipapeiros, mangabeiras [^nota-225], cabaceiras, cajueiros, uvalheiras [^nota-226], palmeiras, pitangueiras [^nota-227], romeiras, araticuns jamacarús [^nota-228], pacobeiras ou bananeiras. Viam-se ainda tamarindeiros, castanheiros, tamareiros ou cariotas, vinhas carregadas de três em três meses, ervas, arbustos, legumes, plantas rasteiras, ornamentais e medicinais. É tal a natureza das ditas árvores que, durante o ano inteiro, ostentam flores, frutos maduros junto com os verdes, como se uma só e mesma árvore estivesse vivendo, em várias de suas partes, a puerícia, a adolescência e a virilidade, ao mesmo tempo erbescente, adolescente e adulta.

Palácio de Friburgo.

Alegre Nassau com este bom êxito de sua plantação, com esta benignidade da natureza, pois aquele arvoredo já ocultava o Recife inteiro a quem o olhasse de longe, pôs a mira no prazer de edificar ali o palácio e a residência do governador.Os heróis e os imperantes comprazem-se em habitar em mansões condignas, e em distinguir-se da multidão, não só na dignidade, senão também no modo de viver e na habitação. A casa que lhe haviam destinado os diretores da Companhia ameaçava ruína e não permitia reparos decentes sem grandes gastos.

Distingue-se por duas torres.

O palácio por ele construído (chama-se Friburgo, isto é, cidadela da liberdade) tem duas torres elevadas, surgindo do meio do parque, visíveis desde o mar, a uma distância de seis a sete milhas, e servem de faróis aos navegantes. Uma delas, tendo no topo uma lanterna e jorrando sua luz nos olhos dos nautas, atrai-lhes a vista para si e para o forte da costa, indicando-lhes a entrada segura e certa do porto. De cima delas descortinam-se, de um