História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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ao Supremo Conselho ligar por um valo os dois referidos fortes para se pôr a coberto aquela área, mas não logrou persuadi-lo em azão das vultosas despesas. Recear estas, quando há proveito, na verdade é próprio dos econômicos e dos mercadores, não, porém, dos que fundam possessões num território estrangeiro.

Realizaram-se estas obras no ano de 1639 e seguintes.

Não obstante, ao Conde aprouve furtar aos olhos aquele terreno desnudo, sombreando-o com uma plantação de árvores, não só para não ficar exposto às ofensas do inimigo, mas ainda para os cidadãos e soldados, durante as quadras ásperas, delas tirarem o alimento e o refrigério dos frutos, encontrando também ali os habitantes um abrigo seguro. Realmente, houve uma ocasião em que, não se podendo entrar no Recife por causa do rio, trezentos cidadãos, passando além deste para colherem laranjas, foram quase exterminados, e aprenderam tardiamente a necessidade de seu abastecimento doméstico. Por conseguinte, Nassau, para não pesar ao tesouro e para prover ao bem público, adquiriu a sua custa, aquele terreno, transformando-o num lugar ameno e útil tanto à sua saúde e segurança como à dos seus.Cansado dos negócios públicos, deleitava-se então o Conde com os ócios [^nota-221] ali gozados. Nesta rusticação passava o exímio General as horas vagas, entregando-se à contemplação da Natureza, sempre que não lhe fosse dado ocupar-se da República, e cuidando da guerra nesta mansão da paz, depois que cessava o estrépito das batalhas.Marcharam as obras prosperamente e, concluídas, causavam prazer e admiração a quem as contemplava.Também o imperador Diocleciano [^nota-222] dava-se a esta mesma recreação, partindo ele próprio os canteiros e dedicando-se à jardinagem e arboricultura.O Conde, edificando, teve o cuidado de atender à salubridade, procurando o sossego e obtendo a segurança do lugar, sem descurar também da amenidade dos hortos. De fato, observou-se tal ordem no distribuir as árvores que, de todos os lados, ficavam os vergéis protegidos pelos fortes e por treze baterias.Surgiam, em lindos renques, 700 coqueiros, estes mais altos, aqueles mais baixos, elevando uns o caule a 50 pés, outros a 40, outros a 30 antes de atingirem a separação das palmas. Sendo opinião geral que não se poderiam eles transplantar, mandou o Conde buscá-los a distância de três ou quatro milhas, em carros de quatro rodas, desarraigando-os com jeito e transportando-os para a