leitor, expondo assunto mais ameno, a exemplo daqueles que, nas mesas dos banquetes, interpõem a carne de carneiro entre as veações, e os doces e confeitos entre as iguarias mais pesadas.Tiveram outrora e ainda tem os mais eminentes príncipes e capitães o zelo não somente de aumentar a sua glória com guerras e ínclitos feitos contra o inimigo, mas também de interromper, com um ócio honroso, os tempos das guerras para estadearem a sua magnificência em construções grandiosas. Isso fez Nassau. Repartindo o seu governo entre tantos negócios de peso, quis ocupar-se primeiro em construir um palácio para si e depois duas pontes, aquele mais para uso seu e estas para utilidade pública.É injusto para os superiores quem recusa o alívio dos trabalhos e os regalos àqueles que, pelo brilho de sua dignidade e pela grandeza de sua estirpe, se elevam acima da condição vulgar, e principalmente o bem estar que se procura com uma habitação mais faustuosa, com a amenidade dos vergéis, e com a variada beleza das árvores, das ervas e dos quadros artísticos.Teve Roma arquitetos, teve agricultores que venceram o mundo, conservando uma das mãos nas lavouras e nas granjas e a outra nos arraiais e nas trincheiras. Refiro-me aos Cúrios [^nota-214] e Augustos, aos Fabrícios [^nota-215] e Luculos [^nota-216], aos Pompeus [^nota-217] e Marcelos [^nota-218].
Tucídides. L. 10
E de fato, o esplendor dos edifícios, tanto entre os concidadãos na pátria, como entre estrangeiros, mormente inimigos, costuma dar aparência de poder, segundo afirma Alcibíades em Tucídides.Nada vale engrandecer uma dignidade com um edifício, se se busca toda a dignidade só com o edifício, pois convém que ele se honre mais com o dono que este com ele. Do contrário, fazem os donos que se hajam de ver antes as pedras, os mármores, as estátuas, as tapeçarias e tudo o mais do que a eles mesmos, e para eles já não brilham as riquezas como honra, mas como opróbrio.
Nassau faz um parque na ilha de Antônio Vaz,
Havia na chamada Ilha de Antônio Vaz (tal era o nome do antigo possuidor) ampla área de terreno, entre o forte de Ernesto e a das Três Pontas [^nota-219], situada entre o Capibaribe (sua denominação deriva das capivaras, porcos anfíbios, cuja caça é freqüente neste rio) [^nota-220] e o Beberibe. Era uma planície sáfara, inculta, despida de arvoredo e arbustos, que, por estar desaproveitada, cobria-se de mato. Na margem ulterior do Capibaribe, erguia-se uma colina que, em tempos de guerra, havia de prejudicar a cidade, porquanto, não entrincheirada dessa banda, ficava acessível aos danos feitos pelos inimigos. Mais de uma vez sugeria o Conde