História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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o seu dinheiro nas tavernas e nas demasias, desperdiçando o tempo e a boa fortuna, ou então, vencendo a pobreza, segundo crêem, desejariam voltar para junto dos seus na pátria.

Sobre a Baía - Navios menores.

Sabemos que a Baía é de toda as coisas a mais hostil, tal qual uma unha doente num corpo sadio. Ela domina a terra com saqueadores e o mar com os seus navios, o que lhe é fácil em razão dos portos e baías acessíveis a ela em toda a parte. Por conseqüência, ficando de pé esta Cartago, não havemos de ter nenhum descanso de guerrear. Precisamos de por este remate a tantos triunfos; cumpre aos aliados expugnar este antro de Caco [^nota-212] e este valhacouto de vagabundos. Nisto estará o ápice e o principal de todos os labores nossos. Aqueles, porém, que vão tomar esta empresa necessitam de valiosos auxílios, pois aos guerreiros não ajudam somente os benefícios da fortuna, mas também as suas próprias mãos e a sua própria força. A expugnação da Baía requer um exército de 5.000 homens, provadamente denodados e peritos na arte militar. Aconselharia eu que se recrutassem na Holanda e se remetessem para o Brasil, convenientemente armados, afim de serem a eles reunidos os conhecedores da milícia e dos lugares do país. Mas, para podermos espalhar também o terror pelo mar afora, desejaria 18 naus grossas e outras tantas ligeiras, equipadas de gente e de armas. Quereria que estivessem nas costas do Brasil em começos do outono, afim de que, nos meses de março e de abril, durante os quais ficam em descanso os acampamentos por causa das chuvas continuadas, ou transportassem elas açúcar para a Holanda ou corressem fortuna no Ocidente, obrando alguma façanha assinalada. Carecemos ainda de embarcações menores, lanchas, botes, patachos, para carregar e descarregar as grandes. As desta sorte estragaram-se no curso de tantos anos, desconjuntando-se, quebrando-se e afundando-se por acidente.

Tesouro.

É tal a inópia do tesouro que, se não se lhe acudir prontamente com numerário; é de temer que faça bancarrota. Os senhores de engenho recusam vender açúcar a não ser à vista, com receio de que, chegando a armada espanhola, tenham de emigrar os compradores holandeses, invalidando-se, assim, os títulos de dívida" [^nota-213].Esse é o teor do relatório escrito que van der Dussen, homem atilado e resoluto, apresentou aos Estados Gerais, ao Príncipe de Orange e ao Conselho dos Dezenove.Antes, porém, de referir as grandes armadas e as célebres batalhas navais que conturbaram. os mares, apraz-me deliciar o