História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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mento. Em amanhecendo, escondem-se em tocas. A carne é quase do mesmo sabor que a de vaca. Os animais chamados COTIAS [^nota-149] na língua de gentio são do tamanho de coelhos ou menores e quase sem cauda. As maiores denominam-se PACAS [^nota-150], e pouco diferem dos gatos na cara, de pêlo pardo sarapintado de branco. São tidas entre os manjares delicados por causa da carne assaz deliciosa. Há também os TATÚS [^nota-151], do tamanho de leitões, com o couro como que revestido de escamas, parecendo uma couraça. Dele deixam sair a cabeça como tartarugas. A carne, grata ao paladar, reserva-se para os banquetes requintados. Existe ainda no Brasil grande abundância de tigres terríveis para os indígenas pela ferocidade, que a fome exaspera, e pela agilidade. Os SERIGUÉS [^nota-152], do porte de uma raposa, mostram na barriga uma coisa insólita e curiosa: dela pendem duas como bolsas, onde carregam os filhos agarrados às tetas com tão forte sucção que não as deixam, antes de poderem, já mais crescidos, correr para buscarem comida por si. Merece também admirado o animal a que chamam os portugueses PREGUIÇA, por trepar às arvores e delas descer lentamente, o que fazem a custo em quatro dias [^nota-153].É também raro o gênero dos TAMANDUÁS [^nota-154] . parecidos com carneiro, focinho comprido e fino, unhas longas e largas. Alimentam-se de formigas [^nota-155], em cujos formigueiros, onde os descobrem, cavando com as unhas, metem a língua e a recolhem coberta de enxames de formigas que engolem. Tem como esquilos uma cauda comprida e coberta de sedas, e sob ela se encobrem, sem nada aparecer do resto do corpo [^nota-156].Os JAGUARETÊS [^nota-157] , onça em português, são tigres negros. Os COATÁS [^nota-158], de cor arruivada e cauda longa, deitam um cheiro almiscarado. O TEIÚ [^nota-159], é um lagarto grande, de cores variegadas. BOIGUAÇÚ [^nota-160], cobra muito grande e versicolor. BOICININGA [^nota-161], em português cascavel, serpente venenosa, que avisa o homem da sua chegada com sua cauda bastante longa e com um chocalho. BOIOBI [^nota-162] ou cobra verde. Os CORIGÕES são os serigués de que já se falou.