Temos só um predicante que pode falar-lhes em português, mas nem um só papista, que deseje ouvi-lo. Obstinados pelos conselhos dos seus padres, a quem dão lucros, e presos pela superstição, fizeram-se surdos à voz dos nossos. Preferem as velharias retumbantes às novidades, e antes querem uma religião esplendorosa e ornada que uma menos brilhante e vistosa.Poderíamos instilar na infância os nossos preceitos, antes de estarem os espíritos imbuídos de outras doutrinas; mas os próprios portugueses a instruem entre as paredes privadas e, com prematura solicitude, gravam nessas tabuinhas rasas os seus ensinamentos.
Plantação de mandioca
O alimento dos naturais é farinha, frutos vários e hortaliças. Preparam aquela com as raízes da mandioca. Esta apresenta ramos de nove folhas alternas, semelhantes ao cinco-em-rama ou pentafilão, à maneira de dedos. Não dá flores nem sementes. O caule lenhoso deita varas lenhosas [^nota-143]. Em montezinhos de terra de 3 ou 4 pés de diâmetro, metem-se três ou quatro pedaços destas varas [^nota-144], deixando-se fora da terra até o meio. Formam-se e distribuem-se esses montinhos por espaçosíssimos campos. Estas varas lançam raízes debaixo do solo, das quais nascem e se multiplicam ramificações subterrâneas e radiciformes, da grossura de um braço e às vezes de um côvado de comprimento conforme a qualidade do terreno. As raízes que os holandeses chamam doces [^nota-145], posto de grossura diferente da mandioca, brotam, fora da terra, em 2 ou 3 rebentos, os quais, tornando-se lenhosos no oitavo, décimo ou duodécimo mês, servem de semente. A mandioca difere das nossas plantas só nisto: nada sai do fruto da mandioca para a sua propagação, e nas nossas o fruto é que gera as sementes, pelas quais se reproduzem. É a mandioca um alimento bastante forte e mais agradável do que o pão para os portugueses, índios e negros e até para os nossos soldados.
Para agrado do leitor, inseri, no relatório de Van der Dussen, esta enumeração mais extensa.
É imensa no Brasil a multidão dos animais silvestres e mansos [^nota-146]."Neste número, para referir poucos, entram PORCOS SELVAGENS [^nota-147], animais anfíbios e de carne saborosa e saudável. Caminhando com patas de comprimento desigual, pois ás dianteiras são mais curtas que as traseiras, andam de vagar, e acossados pelos caçadores, mergulham, quando podem, nas águas próximas.As ANTAS lembram mulas [^nota-148], mas tem porte menor. A boca é mais estreita, o beiço inferior oblongo à semelhança de tuba, as orelhas redondas, a cauda curta e o resto do corpo de cor cinzenta. Fogem da luz e só de noite vagueiam em busca de ali