História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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onde são muito numerosos os holandeses, a quem os portugueses, por isso mesmo, exprobram, como a irreligiosos e profanos, o descaso do culto.

Papistas - Clérigos.

É libérrimo aos papistas o exercício de sua religião, ainda que não sem pesar e murmurações de alguns. Dos eclesiásticos uns são clérigos, outros frades. Clérigos chamo aos presbíteros e sacerdotes, que, sujeitos aos seus vigários, celebram missa e assistem aos enfermos.

Frades - Conventos dos franciscanos

Os frades, segundo a ordem a que pertencem, distinguem-se em franciscanos, carmelitas e beneditinos. O maior número é o dos franciscanos. Vivem em seis conventos de belíssima arquitetura: o primeiro é o de Frederica; o segundo, o de Igarassu [^nota-140], o terceiro, o de Olinda; o quarto, o de Ipojuca; o quinto, o da ilha de Antônio Vaz, e o sexto, o de Serinhaém. Não possuem os franciscanos, nenhum bem de raiz, nenhuma casa, sustentando-se com as esmolas quotidianas que recebem.

Dos carmelitas

Os conventos dos carmelitas são o da Paraíba, o de Frederica e o de Olinda. As obras deste último, encetadas com magnificência e ainda não rematadas, acham-se interrompidas. Eles se mantém com os módicos reditos que tiram de testamentos, construção de casas e lavouras.

Dos beneditinos.

Possuem os beneditinos dois mosteiros, um em Frederica e o outro em Olinda. Tem lavouras na Paraíba, sendo ricos de gados, casas e canaviais. A eles pertence o engenho chamado Masurepe em Pernambuco.

Judeus.

A maioria dos judeus foram da Holanda para o Brasil. Alguns de nacionalidade portuguesa simularam a fé cristã sob o domínio do rei da Espanha. Agora, livres do rigor papista [^nota-141], associam-se abertamente aos judeus, sob um dominador mais indulgente, prova evidente de que, pelo terror, se provoca a hipocrisia e se criam adoradores da realeza, mas não de Deus. Ostentando com bastante audácia a sua religião e os seus ritos, queixando-se os papistas no reino alheio, clamando os nossos, sequazes da Reforma, que saíram da Pátria, onde se permitem as sinagogas, conservaram eles, depois de avisados pelos conselheiros, o culto de Moisés e as cerimônias judaicas mais às ocultas [^nota-142].É muito tênue a esperança de conversão dos papistas, pela sua inveterada opinião de verdade, a qual dificilmente se lhes arrancaria, pois julgam que devem guardar a religião e as cerimônias recebidas dos seus maiores e que seria abominável abandoná-las.