História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Holandeses.

ou americanos. Dos holandeses uns servem a Companhia das Índias Ocidentais, vivem outros por conta própria e não estão adstritos a prestar a ninguém serviços temporários. Estes ou chegaram nesta condição ao Brasil ou a obtiveram ali, depois de haverem servido. Vivem todos na condição de colonos, quer tenham dado baixa da milícia ou conseguido sua dispensa de outras funções, e se acham preparados, quando as circunstâncias o exigirem, a seguir para a guerra ou a defender a liberdade conquistada. Os recenseamentos dão o número destes, indicando os que se podem armar para a infantaria ou para a cavalaria. Os que foram da Holanda para o Brasil por conta própria, ou são mercadores, ou empregados destes, ou de condição mais humilde como estalajadeiros, vendilhões, sapateiros, tecelões, obreiros. Alguns, enriquecendo-se, compraram engenhos e neles trabalham; outros dão-se ao plantio da cana e à lavoura. A estes se deve o desenvolvimento do Recife, que se cobriu de edifícios tão apinhados e numerosos que são elevadíssimos os seus preços, e estreitíssimos os espaços vagos. Disto resultou que a área aberta e vazia da ilha de António Vaz, vendida em lotes, por alto preço, aos que pretendem construir e já habitada por numerosos cidadãos, impôs ao Conselho a necessidade de ampliar-lhe o perímetro até o forte de Frederico Henrique. Continuam as edificações, a despeito de se haver entibiado o comércio e de estarem há muito suspensos os ânimos dos cidadãos com a fama da armada espanhola. Onde se dissipou este receio, desenvolve-se a atividade da mercância, sobem os preços das mercadorias e cresce o desejo de edificar.Não seria vã a esperança de que, neste mundo estrangeiro, possa surgir, de tão brilhantes primórdios, outra Tiro, outra Sidônia. Para este fim, resolveu o Conselho ligar por uma ponte o Recife e a ilha de Antônio Vaz. Um pegão de pedra, construído no leito do rio e resistindo ao contínuo embate das águas, dá a amostra e o início da futura obra

Cumpre estudar com que artes se poderiam atrair colonos para o Brasil.

Muito importaria à grandeza do Brasil que os diretores da Companhia examinassem seriamente com que artes se poderiam atrair colonos para lá, espalhando-os pelos desertos e terras ainda não cultivadas. Assim se proveria à cultura dos campos, aos proventos do tesouro, ao tráfico, às despesas da milícia e, além disso, à segurança, poder e glória da nascente república. Mas, sendo certo que ninguém ambiciona senão aquilo cujos frutos prevê, não se devem iludir os pretendentes com uma vã jactação de vantagens, pois não lhes poderiam ser doadas as terras vizinhas do mar ou da costa, ocupadas há muito pelos seus possuidores, nem as do sertão