alheia nos ensina que pouco proveito se alcança com exércitos cindidos pelas injustiças e rivalidades, e assim era preciso remover as causas destas. Conquanto não apresente eu somente esta causa da partida de Artichofski, ainda assim achei bom comentar, sem mais atento cuidado, esta carta. Quem desejar aprofundá-la mais com o vigor do engenho e delibar o fel que ressumbra siga o seu gosto. Confio que esta sincera confissão da verdade prevalecerá sobre as cegas simpatias de alguns com Artichofski, principalmente entre aqueles que não desconhecem de todo os atos por ele aqui praticados." [^nota-116] Os conselheiros do Brasil escreveram aos diretores da Companhia na Holanda rio mesmo sentido que o Conde, achando que devia ser lavada, com uma defesa comum, a nódoa de desídia lançada em todos. Diante disso, acreditaram muitos que Artichofski, no pleno gozo de suas faculdades mentais, destruíra, numa só carta, a autoridade assaz ampla e o renome por ele granjeado, na guerra americana. E se não fora vergonha exprobarem-se aos varões eminentes os seus vícios, poder-se-ia crer que Artichofski procedeu mal com o Conde por erro da inteligência ou por paixão.Referirei aqui os sucessos posteriores para não deixar suspenso o leitor, interrompendo a minha narração.
Artichofski volta para a Holanda - É julgado variamente.
Regressando Artichofski para a Holanda, apresentou-se inesperadamente perante os Estados Gerais, o Príncipe de Orange e os diretores da Companhia. Expostos aos vários juízos deles, incorreu na repreensão de uns, por causa do seu descomedimento com o Conde, e mereceu a comiseração de outros pelo desprezo e desmoralização em que caiu. Entre o povo, ganhou de alguns crescidos louvores pelo seu inflexível rigor. Os suspicazes, os que costumam aprofundar os motivos ocultos das coisas e aqueles a quem desagradam todos os atos dos governantes assim pensavam: a origem do mal estava em o terem mandado os diretores da Companhia ao Conde, que exercia no Brasil o comando supremo, dando-lhe como que poderes autônomos sobre a superintendência dos armamentos, a qual devia competir somente a Nassau na qualidade de primeiro chefe militar. A não ser assim, ficaria o Conde com títulos vãos enfraquecendo a sua autoridade e repartindo com outrem o seu poder. Dizia-se que as verdadeiras leis do comando não sofrem tais competições, nem se harmonizam estas com o nome de generalato; além disso, que não se devia ter ordenado a Artichofski a emenda de males que acaso houvessem surgido, mas ao Conde e aos