Não há por que se lamente Artichofski a respeito da instrução dos seus soldados: não se descuidam os tenentes de instruí-los e formá-los nas artes com que se habilitam para a milícia. Tudo o que pode ocorrer na ordem da batalha ou nos combates tudo isso aprendem nos exercícios campais.Logo, em palavras brandas, escusa a quem acusa, como se tivera eu perdido o senso da altivez e da dignidade firme. Se a situação pode ser por mira corrigida e se há esperança de o ser em breve, com que fim levanta ele estes tumultos e essa tempestade" com que intuito apela para as autoridades da Europa com essas apóstrofes ultramarinas" Louva-me pelo meu natural e afabilidade. Isto, porém, é adulação e em verdade estúpida, e assim nem para o meu cavalo, nem para o meu cão invejarei louvores destes, conquanto sejam entes desprovidos de razão e de virtude. Ser louvado por esta forma não dista do vitupério. Calar aquilo que é de um bom general é crimina-lo abertamente. Elogia-me às claras para ferir-me com tais lisonjas.Quando diz que seus regimentos estão sendo desorganizados e que isto não me toca, mal poderia notar uma pessoa grande quanto me põe a honra a barato. Que há mais desairoso que não pertencer-me o desorganizarem-se-lhe os regimentos, mas ao Conselho Supremo? quando, primeiro que todos, sou adstrito pela consciência do dever a não permitir que eles se desorganizem e enfraqueçam. E em verdade estou cabalmente persuadido de que esta é também uma atribuição do Conselho, como provou ele à saciedade na última e na presente expedição. Não é dever só meu, mas também do Conselho Secreto, dos Estados Gerais e da Companhia Ocidental obedecer às ordens, a não ser que aconselhe o contrário a extrema necessidade da República, mais poderosa que todas as determinações e contratos e até mesmo que o ferro e o bronze. Entretanto os conselheiros não retiraram soldados das companhias, senão com ciência e consentimento meu.Os Estados Gerais e cada uma das câmaras da Companhia subscreveram as exigências de Artichofski. Não as devera ele, porém, fazer tão ambiciosa e tão ciosamente, conhecendo as condições do Brasil, onde a necessidade se sobrepõe às instruções, contra as quais é permitido decidir, quando for isto do interesse público. Conforme a apreciação das circunstâncias, necessitam de modificações condizentes com a utilidade geral. Sei que não se deve resistir sem motivo a um superior; mas quando este mesmo periga. quando o Estado periclita, imitarei ao pontífice Corneliano Pisão.
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife