História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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jos e proteção para as hostes em debandada, Julgareis quanto destoa isto dos hábitos da Companhia e dos meus brios.Tendes aí estes motivos das minhas queixas, as quais me pareceu bem apresentar primeiro a vós para não serem desprezadas. Reclamo coisas justíssimas, isto é, cumprir-se o prometido, ou mandarem-se para mim outros soldados, ou serem-me restituídos os que foram retirados, ou dar-se-me desculpa de não ter administrado o que deveria. Se não me for concedido alcançar alguma destas pretensões, já não serei para vós outros o mesmo Artichofski que tenho sido. Posso ser enredado por outros dos quais será dificílimo desenredar-me [^nota-109]. Resta, porém, um remédio: envolver-me no silêncio e deixar que rodem os interesses públicos.Já antes, sob o generalato de Waerdenburch, fui tratado quase de modo idêntico, sem ser empregado nos negócios da milícia, tendo passado quatro anos inteiros entregue aos estudos liberais. Não recusarei gozar, nas mesmas condições, a liberalidade da Companhia, e, ficando-lhe muito obrigado, considerarei esses ócios das Musas e essa vocação das armas o quinhão maior da minha felicidade".Aí termina a carta de Artichofski. Em notas marginais, deu-lhes o Conde respostas escritas às pressas e transmitiu-as junto com a dita missiva aos Estados Gerais. Reuni-las-ei para que o leitor sagaz confronte os artigos da acusação com os da defesa, apreciando o vigor de uma e outra e passando a esponja nas nódoas lançadas ao Conde.

Resposta do Conde à precedente carta de Artichofski.

"Acaso alguém existe, disse Nassau, que acredite haver estado Artichofski enfermo e pregado na cama, tendo-lhe sido possível, durante a moléstia, assistir à festa de um casamento, ir aos templos e chegar, numa jornada de sete ou oito léguas, até a povoação de S. Lourenço no sertão? Andaria melhor, se cuidasse com mais diligência, durante este tempo, de cumprir o seu dever, revistando os arsenais das praças vizinhas, pois somente lhe compete pelas suas instruções escrever minuciosamente sobre o estado deles aos diretores da Holanda. Mas, já pouco tem que dizer, como se calasse grandes e infandas coisas. Se expusesse claramente, uma a uma, as irregularidades que tinha para lançar ao governador, ter-se-ia mostrado homem menos desleal. Agora, para ocupar os crédulos, numa arenga chorosa e tímida, com a suspeita de enormes crimes, deixa suspensos tantos mistérios. Se tem escrúpulo de escrever estes horrendos segredos de nossa dominação já os teria declarado na Holanda de rosto a rosto. A quem fala procurará qualquer um dar sa