se, depois de haver atravessado o Oceano, entre tantos perigos perderem o vigor e não se observarem os pactos concluídos comigo e jurados à face do céu" Quando um mercador não aceita uma letra, chamam os holandeses a isto fazer bancarrota. De que expressão usaremos então, se os delegados plenipotenciários não fazem cabedal das cartas e quirógrafos dos seus superiores, autenticados com suas chancelas" Aí tendes o resumo das minhas queixas, certo justíssimas, as quais julguei necessário confiar-vos. Li-lhes isto mesmo, Respondam o que quiserem. Se não procurarem remediar estes males, está de pé o meu propósito de referi-los ao Conselho dos Dezenove e aos Estados Gerais. O motivo que me impediu a estes queixumes é a minha resolução firme e imutável de cumprir cabalmente os deveres de um bom soldado, ainda que morra, não deixando aviltar-se em mim pela desonra militar a dignidade deste nome. Não está, porém, em meu poder salvá-la, se tiver de me servir na guerra de uma soldadesca indisciplinada, que desconheço e que me desconhece.Ocorre-me ao espírito aquela arte de comandar dos antigos generais. De modo algum seria estranho aplicá-las a estas insignificantes tropas dos nossos. Tendo César tomado Roma, como afluís-se para junto de Pompeu na Tessália grande multidão de romanos da ordem eqüestre, prevalecendo ele por uma soldadesca numerosa e luzida, contasse que César, não obstante, disse: "Partamos contra o General", dando a entender que considerava apenas nomes os soldados de Pompeu, e antes estorvos do que auxílios da guerra. Entretanto, derrotando-os em Farsália, quando já perseguia as tropas e os veteranos de Pompeu às ordens de Petréio e de Afrânio, disse: "Partamos contra o exército sem general."A tal ponto convém serem os soldados conhecidos do general e este dos soldados. Havendo Aníbal desbaratado, numa carga de cavalaria, a Cipião, pai do Africano, refere-se ter exortado a soldadesca antes do combate com estas palavras: "Ides pelejar com um exército desconhecido do seu capitão e que desconhece a este".Quando vim ao Brasil pela segunda vez, comandava somente oito companhias, que, num exercício assaz longo da guerra, se acostumaram comigo e eu com elas. Quando entrava em campanha, punha as demais em segunda plana. Intrépido, as opus a dois e a três mil inimigos, com felicíssimo resultado. Agora, tendo as ordens uma soldadesca desaparelhada e lerda, se me é preciso às vezes encontrar-me com as forças adversas, hão-se de procurar esconderi
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife