e poder remediar o mal Amiúde correm de mão em mão bilhetes e cartinhas procedentes do vice-almirante, dos sargentos-mores ou ainda mesmo dos oficiais de mais baixa categoria e dirigidas não a mim, mas aos meus capitães, destacados para mais longe. Nela ordena o Conde que se despache ora um, ora outro para as naus ou para os serviços náuticos, ou para os trabalhos mecânicos ou para outras companhias. E conseguem-se tais coisas antes de se verificar a autenticidade das ordens. Retiram-se tambores e trombeteiros, substituindo-os por outros. Há muito que o tenente-coronel do meu regimento no Recife está fora de atividade, vivendo descansado e ocioso, afastado da vista e do comando das suas companhias. Estas se acham dispersas pelas guarnições, a distâncias imensas, desde o rio de São Francisco até a Paraíba, numa extensão de cem léguas. Assim, é preciso um mês para eu me inteirar do estado delas. E no entanto, fazem-se novas levas e renova-se a soldadesca, quando todas as companhias poderiam estar alojadas na mesma província, cada uma delas sob as vistas e a disciplina dos seus comandantes gerais, de sorte que, sendo diversas, conhecessem a autoridade de um só, Que de proveitoso poderíeis esperar de soldados assim instruídos e tratados" Com que êxito poderei levar contra o inimigo estas ovelhinhas mais propriamente do que soldados" Certamente para correr o perigo certíssimo de manchar, sem querer e sem culpa, a minha honra, até hoje ilibada.Parecerá que digo estas coisas e muitas outras semelhantes contra o Conde e que elas contem uma queixa. Sendo elas, porém, de pequena importância, admitem fácil emenda, e crê-se que terão fim. Confesso que nunca me queixei francamente delas com o Conde, visto como, por doença, era impedido de o fazer e esperava todos os dias melhor situação.Muitos assuntos também ainda não foram sujeitos a deliberação, quanto mais a decisão.Desde o princípio, verifiquei ser tal a natureza e o trato do Conde que é preciso não ser bem homem ou ser de péssima estofa quem tiver com ele um dissídio. Provar-lhe-ei a minha obediência, brandura e equanimidade, e jamais acontecerá seja eu acusado de lhe desobedecer. Entretanto, não tange ao Conde, mas aos membros do Supremo Conselho esse enfraquecimento e transtorno das companhias. É realmente coisa lamentável, e em tantos anos não se puderam corrigir estes males. Sirva de exemplo a última expedição e a que está em preparo.
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife