predicados juntava a sua sobriedade, a sua fama espalhada pelo Brasil e o favor que muitos lhe dispensavam.Relatou o Conde minuciosamente estes sucessos aos Estados Gerais, ao Príncipe de Orange e aos diretores da Companhia na Holanda, não porque não pudesse desprezar agravos e ofensas pessoais, mas porque convinha gozar de boa reputação o governador de um império novo e não se menosprezasse a fidelidade refreadora da obediência de todos. Era este o teor da carta:"Distante de vós, excelentíssimos senhores, tendo partido, em defesa da República, contra o inimigo, expondo-me aos perigos do ultramar, depois de haver provado na Pátria, durante vinte anos, a minha fidelidade nos serviços da guerra, vejo-me caluniado, sem se levarem em conta os trabalhos por mim tomados, ainda mesmo com risco próprio, para promover os interesses da Pátria e da Companhia. As novas instruções com as quais Artichofski se apresentou perante nós demonstram não obscuramente que os dirigentes da Companhia lançam sobre mim suspeitas injustas e, por desconfiança de mim, esperam dele melhor administração, parecendo-lhes que fui um tanto negligente a respeito dos armamentos, se bem eu próprio, mais de uma vez, tenha perlustrado os arsenais e exposto aos diretores, em listas, a penúria dos mesmos. Não ignoro qual seja a importância dos armamentos, quer para se fazer a guerra, quer para não se fazer temerariamente, em razão do medo que eles infundem.Entre as minhas atribuições e nas instruções que recebi para o desempenho do meu cargo, inclui-se como um dos principais deveres cuidar zelosamente deles, Responsabilizar-me, porém, pela sua carência é injusto, porque, solicitando-os tantas vezes, verifiquei não serem de modo algum remetidos. E não os distribuísse eu parcimoniosa e escassamente, teriam nossas possessões sofrido desastres cada vez mais graves. E, por dizer a verdade, parece não ter sido outro o motivo de se mandar Artichofski senão que havia de gerir mais cautamente o municionamento, dando dele conta mais diligente aos diretores, e o faria com tal autoridade e poder que, de agora em diante, nenhum aparelho bélico já deveríamos esperar da Holanda (são palavras dele), a não ser a pedido seu. E realmente, desde que voltou, tem feito crer terem-no para aqui enviado como um esquadrinhador e fiscal dos meus atos. Uma vez que cumpro os meus deveres de homem honesto, não o deveria recear como tal, se ele se abstivesse de rebaixar meu nome e de captar o favor público lançando sobre mim acusações injustas.
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife