História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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como Artichofski, procurariam reconciliar os dois, e, obtendo deste último um pedido de desculpas, abrandariam aquele por sua intercessão. Pareceu imprudente ao Conselho despedir Artichofski (este já se achava detido em casa por determinação do Conselho), o qual havia pouco fora enviado por autoridade dos superiores. Seria isso usurparem eles uma atribuição dos diretores supremos da Companhia em negócio de tanta relevância. Mais imprudente ainda seria despedir ao Conde, porquanto lhe eram subordinados os conselheiros na autoridade, na condição, na dignidade, e não deixaria de haver perigo em ficar o Brasil sem um governador. Seria também afrontoso ao Conde e à casa de Nassau anteporem ao capitão-general de todo o Brasil e à segurança geral a defesa e os créditos de um homem de condição inferior.Tendo conhecimento da decisão dos conselheiros de promoverem a reconciliação, para a qual se propunham para árbitros, perseverou o Conde na sua opinião. Passaram à segunda votação, convocando também o Conselho de Justiça, e, não lhes prazendo outra solução para o caso, igualmente Nassau firmou em nada ceder da sua resolução. No santuário da filosofia aprendera que os ressentimentos envelhecem por último; que os mortais se esquecem dos benefícios, mas lembram-se das ofensas; que é difícil harmonizar a ambição com o comedimento; aquela não descansa, se não alcançar os seus intentos, mormente nos impérios recentes, onde não deve haver rivalidades e onde é perigoso confiar em homens que se reconhecem por êmulos e invejosos da glória alheia.

Demissão de Artichofski.

Enfim, depois que os conselheiros discutiram entre si as razões, as circunstâncias dos fatos, as divergências dos chefes, as condições do momento, acordaram unânimes em reenviar Artichofski e no mesmo dia significaram-lhe, por intermédio de Carpentier, membro do Supremo Conselho, assim como de Elias Herckman e Mortemer, o pensamento de ambas as corporações.

26 de maio de 1639

Não se demorou Artichofski e, embarcando-se na Paraíba em navios que voltavam para a Holanda, deixou o Brasil pela terceira vez.Na qualidade de narrador e não de juiz, não presumo nem de o acusar, nem de o escusar. Referir fatos que estão nos documentos públicos é ato de quem rememora e não de quem recrimina.Quanto ao mais, educado desde menino para a milícia e exercitado nos vários lances da guerra, unira aos exercícios de Marte o estudo das artes liberais, entregando-se com afinco à leitura da história e de conhecimentos às vezes necessários a um capitão. A estes