História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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lavras injuriosas ao respeito e autoridade do Conde, foi revelada pelo próprio Artichofski uma carta, motivo da grande contenda, carta por ele dirigida ao excelentíssimo Alberto Conrado von der Borg, burgomestre de Amsterdam, muito conceituado entre os diretores da Companhia. Tal missiva indignou profundamente não somente o Conde, senão também a todo o Conselho, porque, segundo criam, fora escrita para descrédito de um e outro.

Discurso do Conde sobre a carta de Artichofski a van der Borg.

Nassau convoca o Conselho e, ordenada a comparencia de todos os seus membros, defendendo-se a si e aos conselheiros contra Artichofski, pronunciou um discurso desta substância: "Não é este para mim o primeiro dia de fidelidade à Pátria e aos diretores da Companhia. Há vinte anos venho-a provando quer aos Estados Gerais e ao Príncipe de Orange, quer à Companhia, sem sombra de suspeita, sem mácula de maus conselhos ou paixões, sem intermissão dos meus deveres. Sempre considerei e ainda considero sacrossanta a consciência do juramento que perante eles prestei: jamais acontecerá que a dignidade da minha nação e da minha casa seja por mim aviltada com uma felonia, pois prezo mais do que a mesma vida a estima delas e a dos seus. Entretanto, ponderando os objetivos e maquinações de Artichofski e as instruções com que veio munido, certifico-me de ter incorrido na suspeita de má administração. Não é de crer tenha esse homem a prudência e perspicácia com a qual parece se ia atrever ao que fez, com tal irreverência a mim, se não fosse apoiado por seus instigadores, com cujo auxílio governaria e administraria estas coisas mal começadas. De fato, o seu modo de tratar comigo é indecoroso e desconhecedor de toda a obediência, e as cartas dos diretores demonstram, com eloqüência, terem eles sabido há muito que se negligencia a intendência dos armamentos e do aparato bélico, que está por terra a economia dos arsenais, e perdidas estas coisas que cumpria selar. Foi por isso despachado Artichofski para restaurar o que se acha arruinado, velar com diligência pelo que é do uso público, - exatamente a principal atribuição de meu cargo -, e escrever-lhes, minudenciosa e acuradamente, sobre o estado do armamento, dos arsenais e das fortalezas em todo o território do Brasil Holandês. Tais palavras são, sem dúvida, de pessoas que lastimam e nos acusam.Além disso, afirmou Artichofski que, doravante, não mandariam os diretores nenhuma das armas que temos solicitado dois anos a fio, a não ser a pedido dele. Assim já serei convosco um nome vão e em breve nulo. Isto faz crer em verdade que não foi ele enviado para visitar a província entregue a nossa autoridade e meter-se con