História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

Página 107


provisões de boca e petrechos bélicos e restaurando também fortes e trincheiras em Porto Calvo, Una, Serinhaém e Cabo de Santo Agostinho.

Questão com Artichofsk. 1639.

Foi nesta quadra que, pela terceira vez, veio ao Brasil, com oito navios e sete companhias militares, Cristóvão Artichofski, que gozava de antigo prestígio entre os diretores da Companhia. Deu isto ocasião a grave embate, de que surgiram partidos, cindindo-se os cidadãos e os soldados em sentimentos diversos, uns mais favoráveis ao Conde, outros a Artichofski, travando apaixonadas discussões até a respeito da autoridade que competia a cada um dos dois. Nada tão indigno nesta conjuntura do que ver-se o Conselho obrigado a despedir Artichofski, o qual, pertencendo antes à milícia brasileira, lhe participara das ações. E este homem, noutras ocasiões tão cheio de serviços, tão notável pelas suas severas virtude:; marciais, teve de ser recambiado, durante o governo do Conde, tão benévolo e brando, que, havia muito, cativara, pela sua humanidade e caráter bondoso, não somente os seus, mas também os bárbaros. Referirei as causas dessa pendência, mas preferia ignorá-las para que não a conheça e se regozije o espanhol, com pesar da Companhia e de todos os homens de bem.Por prudente decisão e por parecer do Príncipe de Orange p dos Estados Gerais, tinha a Companhia dado a Artichofski, como de fato convinha, a intendência geral do armamento no Brasil, ordenando-lhe o rigoroso desempenho da sua função.Receberam-no com simpatia e distinção o Conde e o Conselho, como o merecia um varão já célebre por várias expedições e pelos seus luzidos feitos no Brasil. Mostrando-lhes as instruções que lhe deram os Estados Gerais, o Príncipe de Orange e os diretores da Companhia, nenhuma dúvida puseram a respeito delas, conquanto remordesse tacitamente ao Conde e aos conselheiros uma tal ou qual insinuação de malévola suspeita nelas esparzida, isto é, que, em chegando Artichofski, se cuidasse com maior diligência de todo o armamento, remetendo-se aos diretores da Companhia relação minuciosa e clara do estado dele, e que eles queriam a milícia e tudo o que a ela se referisse em perfeita ordem. Os ânimos mais briosos acreditavam que nestas palavras eram acusados de má administração.Já tinha decorrido quase um bimestre que se geriam os negócios do Brasil com vistas concordes, sem nenhum rompimento entre os regedores, puros de qualquer suspeita má e da nódoa de qualquer arteirice. Então, depois de espalhados entre o vulgo rumores e pa