História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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rios para não prejudicar a fortuna da Companhia com uma demora improfícua, mandou parte da esquadra para o Brasil, deixou parte em Havana, afim de aproveitar-se ela das ocasiões, e voltou para a Holanda com as outras naus.Estes fatos foram relatados em carta dirigida ao ilustríssimo Conde João Maurício, governador do Brasil, e ao Supremo Conselho.

A rivalidade de poucos frustra a expedição.

Quanto à punição dos culpados, pensava Jol que já não se tratava de uma causa sua, mas de todos os generais e comandantes dali por diante, para servir de escarmento. Abrir mão dela ser-lhe-ia deprimente e perigoso, porque de um lado a exigia o interesse de sua justiça e do outro a utilidade geral. Poderia ele mesmo ter castigado os rebeldes, pois fora enviado com autoridade suprema; todavia, pela morte dos que pertenciam ao conselho de guerra, preferiu entregar o julgamento aos Estados Gerais e aos diretores da Companhia a parecer que tomara precipitadamente uma desforra pessoal. Encontraram os rebeldes seus cabeças e instigadores, mas eram dois os principais culpados, movidos por sentimentos de rivalidade, porque, mais velhos, tinham de obedecer a Jol, mais moço, fato este que estragou tantos aprestos bélicos, baldando e enganando a valentia do almirante.A tal ponto cede o amor da Pátria aos ódios privados que preferem os homens desprezá-la e desonrar-se a ser subordinados a um popular e ex-companheiro de fortuna, como se fora vileza obedecer aos conhecidos e aos menos ilustres pelo nome vão dos maiores. E é vício ínsito aos mortais o verem com maus olhos elevarem-se em dignidade aqueles que tinham posição igual à sua.De regresso para a Holanda, foram os rebeldes denunciados e processados. Obtiveram, porém, graça, seja pela intercessão de amigos, seja pela defensibilidade da causa, merecendo a impunidade e a liberdade.Não é de meu ofício acusar a ninguém, por causa das iras fáceis dos comandantes, às vezes exasperadas pela sorte adversa e pelos malogros das empresas.Jol, tratando diariamente com os seus concidadãos e com os dirigentes da Pátria, deplorava a fortuna da Companhia e acusava os seus subalternos, os quais, por covardia e perversidade, lhe tinham arrebatado tantas honras marciais e a esperança da vitória que Deus dera. Nada sentia tanto como não ter morrido pelejando bravíssimamente. Fora salvo, dizia, não para os prazeres da vida, mas para ludíbrio dos inimigos e dos invejosos. Aguardaria melho