Espanha, isto é, venderem a produção dos engenhos a seu arbítrio e não ao de outros. Arrebatando-se-lhes esta liberdade, preferiam ir para outra parte a sofrerem uma laboriosa servidão, segundo a vontade e as licitações da Companhia.Enquanto se debatiam estas questões entre os comerciantes, intercorriam as dissertações dos doutores. Alegavam que as colônias são outras tantas fortalezas e baluartes dados às possessões, e nada é mais sólido que a fundação delas. O mundo, como que agrilhoado por esses vínculos, permanecera sob a obediência dos romanos, de sorte que se convenceram de ser a multidão dos cidadãos o alicerce de todo o poderio e o sustentáculo de um estado duradouro. Neste desígnio, o rei da Espanha cobrira de colônias o Novo Mundo. Os holandeses deviam habitar por toda a parte onde haviam vencido, como dos romanos dissera Sêneca; porquanto, onde cada um possui os seus campos e haveres, obriga-se à defesa dos dominadores, se não quiser ser expulso, se também eles o forem. Demais, ter-se-ia um escoadouro para uma plebe pobre e gravosa à república, distribuindo-se como prêmio terras aos soldados que houvessem servido. Julgavam, portanto, que se deveria ir enviando em grupos essa plebe, à semelhança dos agricultores prudentes, que espalham os enxames por novas e numerosas colméias.Ofereciam ainda ao exame dos que deliberavam estas considerações: que de melhor vontade se entraria na milícia, onde os soldados que tivessem servido na guerra conseguissem seu abrigo, seus animais, seus campos e lavouras, não sendo de recear tornar-se a filha mais poderosa que a mãe em plagas tão longínquas e tão precisada do auxílio da metrópole.
Adota-se o parecer de Nassau
Os diretores da Companhia e os Estados Gerais adotaram o parecer de Nassau e, por um édito, franquearam a todos os súditos a navegação e o comércio do Brasil, reservando para a Companhia somente o tráfico dos negros, dos petrechos bélicos, das armas e do pau-brasil. Excluíram-se, porém, desta concessão os próprios diretores da Companhia, os administradores públicos do Brasil e em geral todos quantos se achavam ligados a ela por vínculos de fidelidade e juramento, evitando-se, destarte, que, sob aparência de comércio, houvesse lugar para ganâncias e rapinagens, e que, por ambição, se transformasse a fazenda pública em fazenda particular. Foi por esta mesma razão que os tebanos proibiram por lei admitirem-se ao governo da república aqueles que não se abstivessem de relações comerciais por um decênio. As mercadorias exportadas