História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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para o Brasil e às dali importadas para a Holanda se impuseram direitos, de acordo com os interesses da Companhia.Estimulados por esse édito, navegaram para o Brasil tão numerosos mercadores holandeses que o país se viu inundado por molesta cópia de mercadorias e coisas necessárias, cessando por algum tempo as queixas antigas. Os primeiros auferiram interesse; os seguintes, porém, ganharam menos, por causa da afluência de veniagas e dos preços diminutos.Entretanto, atacado depois, em escritos e discussões públicas de outros que pensavam diversamente, este decreto sobre a livre navegação e comércio do Brasil, o qual era tido por salubérrimo no juízo de muitos, cindiram-se os diretores da Companhia em partidos, com dano de todos e não sem mútuas contumélias, e estes e aqueles eram acusados de promover antes os interesses de algumas províncias e cidades que os públicos.Neste entrementes, os diretores da Companhia, velando por tudo com extraordinária previdência, num afã diurno e noturno de resolver e de escrever, administravam de longe os negócios das Índias Ocidentais.

Expedição contra o Ocidente sob o comando de Jol.

Era-lhes muito viva a lembrança da frota da prata, apresada pelo ilustre Pieter Hein, a qual muito aliviara o tesouro então necessitado e recentemente abatera a fama e as forças do rei da Espanha. Por isso, determinaram tentar empresa semelhante, desafiando a fortuna com igual audácia e esperança. Para este cometimento foi escolhido Cornélio Jol [^nota-107], criado no mar e entre as ondas desde tenros anos, enérgico e experimentado na mareagem, resoluto para todas as façanhas, marinheiro sereno e confiante em si, de grande reserva, de veemente arrojo, capacíssimo de fadiga e de fidelidade, mas rude em tudo o mais. Almirante de uma esquadra nova e possante, recebeu dos Estados Gerais, do Príncipe de Orange e dos diretores da Companhia autorização e poderes para combater com o inimigo e atacar as naus que, carregadas com as imensas riquezas do Peru e dos reinos do Pacífico, tinham de passar da Terra Firme e do porto de Cartagena para a Nova Espanha, a fim de se juntarem ali a outros navios com forças e mercadorias.

Outro plano trará o Conde.

De outro lado, Maurício e o Supremo Conselho do Brasil, após o frustrâneo ataque contra S. Salvador, eram de parecer que, aproveitando os soldados ainda prontos para as hostilidades, se incendiassem todos os engenhos daquela capitania, tanto nas ilhas como no continente. A causa era porque, experimentando os adversários