História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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com grossos lucros, o quádruplo ou quíntuplo, e isto principalmente porque os portugueses temiam para si e para o açúcar os efeitos da guerra externa. Agora, porém, encontra-se pouco açúcar, cujos preços se elevem, por se ter alcançado para o país maior segurança e, além disso, por haver abundância de mercadorias holandesas. Parecia-lhe de mais proveito conceder a todos licença para comerciar, em igualdade de condições. Negando-se tal licença, ficaria a Companhia privada de impostos, portagens e direitos alfandegários. Demais, não poderiam ser adquiridas pela Companhia as mercadorias necessárias aos brasileiros, a não ser por muito dinheiro, e deste, segundo era manifesto, se achava ela então carecida. Nem tampouco poderiam elas vender-se com lucro, em razão da afluência das veniagas particulares. Se quisesse comprá-las a Companhia na maior quantidade possível, não o conseguiria sem prejuízo; porque, comprando-as por maior preço, seria isto em detrimento público; se o fizesse por preço menor, seria em dano dos particulares, aos quais seria fácil ocultá-las e não mostrá-las aos compradores.

Prova-se a necessidade das colônias.

Além disso, prosseguia o Conde, não se podem, sem colonos, cultivar os desertos e as terras incultas do Brasil. Não é, entretanto, possível convidá-los a virem para o Brasil, sem lhes conceder licença para negociar. De um grande número de cidadãos podem esperar-se lucros, por causa das necessidades de cada um e de muitos. Assim, crescendo a população, cresceriam os dinheiros públicos, sem os quais não é possível ter armas, e sem armas não se consegue descanso para a nova nação.Cumpre que os governantes façam sempre o seu orçamento para haver proporção entre a receita e a despesa.Os colonos dariam mais resistência às províncias, diminuiriam as guarnições e trariam maior segurança à república, que confiaria nos seus próprios cidadãos.Os portugueses mantêm-se na obediência somente pelo temor. Dedicados no mais ao seu rei, são de fidelidade vacilante e prontos para mudar na primeira ocasião.Sem esperanças de lucros não há esperanças de colonos: ninguém atravessa os mares na expectativa da fome. Desprezam-se os perigos da vida, em brilhando o ganho, e deste cada um será privado se exclusivamente comerciar a Companhia.Insistia ainda Nassau nisto: que era importunado diariamente pelas reclamações dos naturais, que pactuaram viver sob a nossa dominação nas mesmas condições nas quais tinham vivido sob o rei da