esses males num erário mais sólido, e procurava-se o remédio do erário na liberalidade e na coragem dos sócios da Companhia. Estes, por sua vez, buscavam o seu no sucesso e felicidade das empresas do Brasil. Assim por mútuas obras, teria a Companhia de ajudar o Brasil e o Brasil à Companhia, pois estavam ligadas a salvação e as vantagens de um e de outro. Aprovaram o alvitre do Conde de resguardar o rio São Francisco contra os saqueadores, para não se entregarem, rompido este muro divisório da guerra e das partes adversas, à devastação do território e das lavouras dos holandeses e não talarem, a ferro e fogo, as plantações de cana-de-açúcar. Era ótimo o intento do Conde de não dar aos baianos repouso e lazer de sentirem as próprias misérias. Deviam estes, portanto, ficar ocupados na terra e no mar para não nos causarem danos, nem cuidarem de nos fazer violência, porquanto, armados eram temidos, mas, inermes e inertes, eram desprezados. Tomasse o Conde a dianteira ao inimigo para não a tomar ele. É mais sensato espalhar o medo nas terras alheias do que experimentá-lo nas próprias, ou, o que entre as pessoas avisadas é igualmente desejável, nem temer continuamente, nem perecer. Teriam eles diretores por primeiro e último cuidado o fortalecerem as províncias do Brasil com a remessa de naus e soldados" .Controvérsia entre os diretores da Companhia sobre se convinha abrir o Brasil ao comércio privado ou reservá-lo ao monopólio público - Desvantagens das colôniasPor esse tempo, agitava-se importante controvérsia entre os dirigentes da Companhia, a qual se travou principalmente entre as câmaras da Holanda e da Zelândia. Versava sobre se seria proveitoso à Companhia franquear o Brasil ao comércio privado, ou se devia competir a ela tudo o que se referisse ao comércio e às necessidades dos habitantes daquela região. Cada um dos dois partidos sustentava o seu parecer. Os propugnadores do monopólio escudavam-se com o exemplo da Companhia Oriental, usando o argumento de que se esperariam maiores lucros, se apenas a Companhia comerciasse, porque, com o tráfico livre, dispersar-se-ia o ganho entre muitos, barateando as mercadorias pela concorrência. Confessavam que por este sistema se formariam colônias, mas que destas se deveriam temer não pequenas desvantagens, podendo as mais populosas sacudir a dominação ultramarina, ou tornar-se a filha mais poderosa do que a mãe. Assim Cartago sobrepujou Tiro, Marselha se tornou maior que Focéia, Siracusa sobrelevou Corinto. Cizico e Bisâncio prevaleceram sobre Mileto, alcançando todas mais poder que suas metrópoles. Além disso, é nas colônias que se reúne a escória da sociedade, não surgindo uma república organizada, mas
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife