feita digno; mas de auxílios insignificantes não nasce nem esperança, nem temor infundido aos adversários. Um exército grande impede os ânimos a uma e outra coisa. Não ignoro a penúria do Tesouro, em conseqüência das guerras de tantos anos atrás, exaurido por vultuosas despesas, sem o encherem os réditos escassos e módicos. Entretanto, havendo vós empreendido coisas dignas do século e do valor dos batavos, deveis insistir nos vossos cometimentos e não desesperar deles. A sorte está lançada: passamos não o Rubicão, mas o Oceano [^nota-103]. Ou desabará toda a construção do império brasileiro ou tem de ser esteada em grande coragem. Temos de navegar com velas e remos estas Sirtes, [^nota-104] estes Acrocerâunios [^nota-105] do novo governo. Os mal afamados escolhos dos governantes são o receio dos perigos e das despesas. Acho mais glorioso obedecer-vos o Brasil e ser todo vencido, resgatado embora com muito dinheiro, do que, por parcimônia e negligência, perdermos nele as nossas conquistas. Se perseverardes em remeter os socorros para este ano, gozará de segurança a República, e recobrará vigor o erário. Se Deus, propício, desviar da safra do açúcar qualquer dano, poderá a Companhia contar, este ano, com 600.000 florins, rendimento que aumentará anualmente, aumentando a segurança dos campos.Não é maior a nossa força marítima. Os vasos que chegaram estavam tão faltos de marujos que me foi preciso destacar trezentos soldados para governá-los. Além disso, os mais deles, por avariados e quebrados, reclamavam reparo, não sendo idôneos nem para a ofensiva, nem para a defensiva. Remediar-se-iam tais males com esquiparem os diretores europeus da Companhia dezoito naus grossas, enviando-as com presteza. Com e!as não somente se pode levar a guerra ao território inimigo, mas também transportar para a Holanda as mercadorias brasileiras e fazer rosto às armadas dos portugueses, se acaso aprestam eles alguma".Resposta dos Diretores holandeses.Lemos que o Conde escreveu esta carta, revelando em verdade a sua prudência, pois um general deve olhar para o futuro, ainda fora da guerra, e proceder com cuidado e previdência, como se o inimigo já o atacasse e Aníbal estivesse diante das portas [^nota-87]. À carta do Conde deram os diretores europeus esta resposta: "Não ignoravam que eram incertos e dúbios os resultados das guerras. A expugnação da Baía, fácil aos desejos, era dificílima às armas. Para isso necessitaria o Conde de maiores forças, mas fatos supervenientes impediram o remeter-lhas. Buscava-se remédio para
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife