História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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baixa, depois de desempenharem por brio marcial os seus deveres e serviços, e pedindo-a outros diariamente em razão da milícia pesada e infrutuosa. A estes retinha ele sob as bandeiras, não com larguezas e ambições, mas por boas maneiras, por brandura e severidade. Além disso havia mister mais guarnições para resguardarem dos danos e devastações dos inimigos os vastos territórios que se estendem desde Serinhaém e Porto Calvo até as margens do São Francisco. Ao contrário, ficavam dispersas as forças militares, tornando-se incapazes de proteger a República contra as inopinadas invasões do inimigo. Acometera à cidade de São Salvador com maior fama e estrépito que proveito. Aos combatentes não lhes faltara coragem, mas número. Na expectativa daquele cometimento, fora afagado mais pelos seus desejos do que pelas suas forças: da fortuna esperava os sucessos da guerra, os quais poderiam tê-los dado ou a diligência dos seus ou uma sorte mais feliz. Se lhe fosse permitido fazer contas, ao número de gente de guerra que, por acordo geral de todas as câmaras da Companhia, havia sido prometido, ainda faltavam mil e duzentos homens, além daqueles que ordens do Príncipe de Orange e dos diretores da Companhia determinaram se reservassem para outras expedições. Era ainda desejo seu fossem eles remetidos. De fato, não basta. - são palavras do Conde -, decretarem-se para o Brasil as providências mais úteis: é necessário executarem-se a seu tempo. Para quem guerreia é vantajosa a celeridade e perigosas as procrastinações. Não dão remédio na necessidade as forças militares, se não são conscritas com antecedência, para que, consumidas as primeiras, não sejam ineficazes as subseqüentes. Não posso censurar desleixo em homens ponderados e zelosíssimos do interesse público: posso, porém, lamentar a penúria, a qual se devera acudir, com extremo cuidado, em coisa de tanto vulto, como se faz nas moléstias do corpo. Desses males se padece entre inconscientes ou conscientes. Conviria enviar juntos socorros maiores e não parceladamente: um exército unido é mais vigoroso que um separado em diminutos batalhões. São necessários nas guarnições 4.000 homens, e todavia não perfazem tal número os que aqui se acham sob as bandeiras. Com quais soldados então se há-de combater o inimigo" Com quais se há-de ele repelir quando sobrevém" Com quais se hão-de premunir as vias e entradas do país contra as rapinas e devastações dos malfeitores vagabundos? Desejo e peço me sejam enviados 3.600 homens, que, acrescentados àqueles que temos nas guarnições, montarão a 7.000. Com este exército não só há esperança, mas confiança de poder a Companhia praticar algum