História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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em vão, porque o inimigo, mais insolente com os seus venturosos sucessos, se mostrava obstinado. Ainda se achava o corneta na cidade, quando abicou uma nau portuguesa, com dez bocas de fogo de cada bordo e provida de copiosa gente de peleja, anunciando estarem presentes socorros e tropas de reforço. Recreou-se o governador com tal notícia, e, perdido o temor e como que alcançada a segurança, detonou três vezes a artilharia. Não afugentara esta nau portuguesa à nossa armada, mas éramos impedidos pelo vento contrário de nos aproximarmos dela, incendendo-se inutilmente os ânimos da maruja com a esperança de presa.Compreendeu-se então que haviam sido falsas as informações dadas a Nassau sobre a discórdia entre Bagnuolo e o governador da Baía, pois cedera este àquele toda a sua autoridade sobre a milícia e a administração da guerra, havendo o bispo acudido com dinheiro à aflitiva inópia da soldadesca queixosa.Penetrou fundo no ânimo de Maurício não ter ele podido, por falta e por demora de auxílios, vingar, nesta célebre expedição, o renome da Pátria, da Companhia e o seu próprio, pois estaria pronto, estimulado pelos exemplos gloriosos de sua família, para dar a vida por isso.

As despesas com a expedição compensadas com as tomadias feitas

Não pesaram à Companhia os gastos feitos com a empresa, porque os compensarem os despojos, pouco antes ganhos na África e a venda de quatrocentos negros. Entretanto muito lhe doeu a Nassau a morte de valorosíssimos capitães e de esforçadíssimos soldados. Em todo o caso, dizia ter colhido um proveito: lustrara de perto, com os próprios olhos, a posição e a resistência da cidade, dos fortes e de toda a região, achando-se mais apto para retomar, com as guarnições e tropas auxiliares e em ótimas condições, o empreendimento que intentara.Depois o general, prevenindo-se para o futuro e receando as censuras que de longe lhe fariam, dirigiu aos Estados Gerais a carta do teor seguinte, na qual lhes dava conhecimento dos atos praticados:

Carta do Conde aos Estados Gerais

"Entregara-se-lhe o governo supremo do Brasil para defender ele o que já se conquistara e ganhar o que ainda não se conquistara. Entretanto não é possível, sem soldados nem armas, garantir ou dilatar os reinos: sem estes meios esmorecem os planos bélicos e fraqueia tudo o mais. Dia a dia, se lhe desfalcavam as tropas, extintos uns pela violência da guerra, consumidos e combalidos outros pelas doenças e pelos incômodos das caminhadas; tendo outros obtido