História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Os inimigos levam suas devastações além do rio de S. Francisco - Picard é mandado com patrulhas contra os saqueadores

Desejava também apoderar-se no mar da dita armada. Acreditava que, desbaratando-a, se aquietaria o Brasil, coisa propícia à produção e comércio do açúcar. Nesse intento, pedia aos diretores da Companhia lhe mandassem o maior número possível de naus, recomendando-as por duplo fim: servirem para vencer o inimigo e depois para transportarem açúcar. Não cessou o inimigo, conquanto ocupasse o sul do rio de São Francisco, de causar danos aos nossos. Levou prisioneiros para a Torre de Garcia de Ávila alguns marinheiros que haviam saltado em terra com o fim de capturar gado, e, atravessando em canoas o rio, ganhou-lhe a margem setentrional, onde caiu de improviso sobre os nossos soldados, que vagavam descuidosos nas paragens do Cururipe [^nota-99]. Além disso, chegando mais longe até o rio de S. Miguel [^nota-100] e percorrendo os territórios das Alagoas, Una e Porto Calvo, marchou por aí devastando, associados a si bandos de saqueadores. Aos portugueses tratava mais brandamente, mas com os judeus e com os holandeses mostrava ferocidade. Contra esses depredadores foi mandado Picard, apesar de serem escassas as guarnições holandesas e, rondando ele com patrulhas distintas as vias públicas e encruzilhadas, rechaçou, para as matas, com o terror por ele infundido, os salteadores, que andavam em maltas volantes, não adstritas a nenhuma disciplina militar, mas atirando-se à presa que a sorte lhes oferecia.

Volta Nassau da Paraíba

Finda a jornada da Paraíba, Nassau, coparticipando, pelos laços do sangue, da glória que, em altos precônios, celebrizava Orange em todas as nações pela tomada de Breda, mandou-lhe uma carta, na qual com ele se congratulava "por tamanha vitória em razão da importância da praça, da celeridade do cerco, dos labores e lances e por haver ele príncipe escapado ao perigo da morte comum" E acrescentava:"que pela escassez de bastimento e de soldados, lhe haviam passado sem grandes feitos os meses do estio. Fora por isso à Paraíba e ao Rio Grande com ingentes rodeios, percorrendo por terra 135 léguas para munir os lugares fracos e restaurar por toda a parte as fortificações desmanteladas. Haviam chegado ao Recife doze naus holandesas com assaz de provisão e petrecho bélico, mas com 200 soldados somente de reforço. Tinha determinado atacar a cidade do Salvador com os soldados que estavam à mão, no máximo uns 3.100, exceto 1.200 índios. Esperava impedir o abastecimento da cidade, a qual, segundo ouvira de fonte autorizada, padecia falta de vitualhas. Bagnuolo, acampado com um poder de 1.300 soldados e 500 índios junto à Vila Velha, espreitava ocasiões