de se lançar a empresas. O inimigo conforme corria voz, estava prestes para batalhar conosco, e este era também desejo dos seus".Expedição contra a Baía de Todos os Santos - Razões da expedição Começou, pois, Maurício a revolver no pensamento esta facção de maior tomo e de maior labor, isto é, a expugnação da Baía e de sua metrópole, da qual, tendo-nos antes dela senhoreado com varonil audácia, fomos depois privados por feminil covardia, por se haverem os guardas entregado à lascívia. Por cartas reiteradas dos diretores da Companhia, foram ao Conde prometidos auxílios para esta expedição. Tardando, porém, estes e passando a quadra do ano própria para a guerra, o Conde, maior na grandeza do ânimo do que na das forças então disponíveis, convocou os soldados de todos os presídios e recenseou 3.400 holandeses e 1.000 brasileiros. Determinou que estes se reunissem aos holandeses, presumindo que entre uns e outros se havia de dar emulação de valentia. Aprendera que se faz de um modo a guerra interna e de outro a externa; que, na primeira, tem-se de sustentar a luta, utilizando as forças militares que a pátria subministra, e, que na segunda, pode vencer-se o inimigo ainda mesmo por meio dos seus, os quais, impacientes de uma dominação diuturna e feroz, abraçam avidamente o auxílio estrangeiro. A despeito de saber Nassau muito bem que, com o seu exército, não estava apto para meter ombros à expedição projetada, por ser mais poderoso o competidor, todavia não desistiu da empresa, alentado com a expectativa quotidiana das tropas auxiliares que lhe viriam da Holanda. Também incitavam o Conde os diretores europeus, apertando-o de contínuo para realizar a conquista da Baía, na qual levava a mira. Era ali, diziam eles, o principal refúgio dos portugueses; era ali que se dava a máxima atenção à resistência contra o invasor e à honra do rei da Espanha; em nenhuma outra parte havia mais engenhos de açúcar e presa mais rica: com aquela vitória poderia o Brasil dentro em breve estar todo sujeito à Holanda, e nenhuma outra cidade galardoaria mais dignamente os vencedores e causaria danos mais certos aos adversários. Da própria Baía e da cidade de São Salvador se denunciava ao Conde que a soldadesca das guarnições, queixosa por não lhe serem pagos os soldos, se inclinava para a rebelião; que havia divergência entre Bagnuolo e o governador da Baía sobre o modo de se fazer a guerra, que os baianos simpatizavam conosco e seriam nossos, segundo a vontade da fortuna; que o Conde, pela sua moderação, clemência e benignidade para com os portugueses, ganhava-lhes os ânimos, atraindo-os a si dia a dia; que o inimigo se sentia fraco pela penúria de armas e mantimento.
História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.
Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife