História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Forte de van Ceulen

batalhado valorosamente, de um lado por terra, do outro por mar, os famosos cabos de guerra Byma, Cloppemburg, Friese, Lichthart, Garstman e Mansfeld. E posto se tivesse por invicta a fortaleza, à conta do seu sítio, açoitado pelo mar próximo, e das suas munições, ainda assim se deixou vencer pelas armas batávicas, mostrando com o seu exemplo nada ser impenetrável ao denodo. Assentada sobre um rochedo, debruça-se sobre o rio, cingida por um muro de pedra bastante alto e provida de artilharia contra toda a violência, sendo assim difícil o aproximar-se dela e possível o defendê-la com pequeno presídio. Quando ainda pertencia ao partido real, chamava-se o Forte dos Três Reis Magos. Adotando-se agora para ele a denominação de Forte de Ceulen, passou simultaneamente para o poder e recebeu o nome do conselheiro holandês [^nota-94]. Mudados os regedores da possessão, foi pouco mudar o nome das coisas.

Vêm ter com o Conde emissários dos tapuias. Ofertam-lhe presentes.

Demorando-se Nassau às margens do São Francisco, vieram ter com ele emissários do rei dos tapuias, com presentes, arcos, flechas, lindíssimas penas de ema [^nota-95], com as quais se enfeitam indo para a guerra. Com a devida cortesia, aceitou-os como dádivas de paz e de um começo de concórdia e penhores de benquerença, e, tratando digna e magnificamente aos embaixadores, retribuiu os mimos mandando-lhe vestimentas de linho, camisas de mulher, facas, chocalhos, missangas, corais, anzóis, pregos, objetos para eles desconhecidos ou pelo menos raros. Sobremodo contentes com isso, retiraram-se, prometendo persuadir seu rei de aproximar-se do Conde e vir saudá-lo.

Maurício restaura fortes - Elogio de Elias Herckman

Fez Maurício restaurar na Paraíba o forte arruinado do Cabedelo ou de Sta. Catarina e guarnecê-lo com um fosso mais largo e mais fundo e, por cima, com uma couraça. Mudou-lhe Nassau o nome para o de Margarida, como se chama sua irmã. Abandonou na margem setentrional do rio ou outro forte - o de Santo Antônio -, por causa das grandes despesas, deixando ali somente uma torre para a defesa do lugar. Mandou que os soldados cercassem com paus e estacas uma fortificaçãozinha - a Restinga -, e com uma trincheira o convento da Paraíba, procurando garantí-los contra os súbitos assaltos dos inimigos. Confiou esta incumbência a Elias Herckman, diretor da Paraíba, homem que, além de muitas virtudes, era dotado de engenho agudo e dado ao cultivo da poesia holandesa [^nota-96]. Demais, calejado nos lances da navegação, marítimo experimentado, demonstrava inquebrantável fidelidade aos seus senhores e indefesa operosidade.