Sete povoações - Pinda-Una
O andar térreo serve-lhes de armazém e despensa. As paredes laterais são formadas de varas rebocadas, sem capricho, nem elegância. A cidade propriamente contém alguns edifícios bonitos, feitos de pedra, cujos cantos e janelas são de mármore branco, sendo o resto das paredes de alvenaria. Os habitantes, de estatura inferior à dos europeus, resistem pouco ao trabalho. Habitam os paraibanos sete povoações. A principal é Pinda-Una, que conta 1.500 almas, enquanto as outras somente 300. Cada uma destas aldeias consta de cinco ou seis casas oblongas, que se distinguem por pequeninas e numerosas portas, pelas quais se entra e se sai [^nota-84]. Os íncolas andam nus, a não ser que uma tanga cubra as partes viris nos homens e uma camisa de linho resguarde as mulheres. Gostam de estar junto das esposas e não sem ciúmes. São assaz desleixados quanto à criação dos filhos e, desconhecendo disciplina e educação séria, inábeis para tudo o que é elevado, estão por isso presos a uma servidão natural. Têm aos portugueses ódio feroz, e estes lho retribuem, como a réus de perfídia, de ingratidão e de falta de caráter.
Mercadorias -18 engenhos
As mercadorias que apresentam ao comércio dos estrangeiros são açúcar, pau-brasil, tabaco, couros de boi, algodão e outros produtos. Possui a Paraíba dezoito engenhos, dos quais uns se movem à força de água. outros à de bois. Vêem-se tais engenhos suceder-se nas margens setentrional e meridional do Paraíba.Entretanto, vindo-me água à boca com a doçura do açúcar, não será estranho aspergir com o doce suco das canas as páginas desta narração, e comparar o açúcar dos antigos com o dos modernos. Esta história, eriçada de termos guerreiros, amansará, misturando-se com esta suavidade das coisas e das palavras. E é certamente admirável que não se dome com tão brando alimento a barbárie e que perdure a aspereza e ferócia dos costumes naqueles que se nutrem com esse néctar e ambrósia.
Dissertação sobre o açúcar
Fizeram menção do açúcar Plínio, Dioscórides [^nota-85], Galeno e Hesíquio [^nota-86]. Os botânicos, porém, discutem se este é o mesmo açúcar do nosso tempo. Os que sustentam que é outro dizem que o dos antigos se cristalizava nas próprias canas, enquanto o nosso se espreme líquido e se condensa ao lume. Dioscórides informa que o dos antigos era quebradiço nos dentes e friável como sal. O nosso logo se liquefaz, convertendo-se num suco viscoso, e de modo algum quebradiço. O dos antigos era bom para o estômago, intestinos e fígado, e o nosso faz-lhes mal. Aquele aplacava a sede; este a excita. Mas os defensores dessa diversidade não esclareceriam facilmente