História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Para firmarmos o poder, sem dúvida valemo-nos também das opiniões religiosas. Cada qual toma a que escolheu como instrumento idôneo para procurar a segurança em benefício não só da salvação dos homens, mas também da dominação.Não foi menor o zelo que se votou ao comércio, à compra de açúcar e pau-brasil, quer fosse tomado ao inimigo, quer adquirido por dinheiro, quer cortado em nossas matas, e bem assim ao tráfico freqüente dos escravos, ao transporte do ouro americano para a terra pátria, às mercadorias importadas nas naus da Holanda, ao reparo das avariadas no mar, aos futuros carregamentos e às várias necessidades das que partiam. Tratava-se dos estipêndios, prêmios e rações dos indígenas incorporados na nossa milícia; das contínuas remessas, idas e voltas de vasos transportando armas e provisões para todos os territórios do Brasil, ora para estes, ora para aqueles; das designações de magistrados em toda as províncias e, na ausência do Conde, das suas eleições; dos pedidos dos predicadores e ministros reformados. Demais, cuidava-se da assistência aos pobres, órfãos e enfermos; do recenseamento dos cidadãos em cada uma das cidades, e inúmeras outras coisas que cumpriam fazer na terra e no mar, segundo a ordem prescrita pela Companhia no interesse imediato da República. Era a constante matéria e execução destes objetivos, digo eu, que apertava o Senado Político.

Partida do Conde para as capitanias da Paraíba e do Rio Grande - ano de 1638.

O Conde, restituído a si e à milícia após moléstia assaz demorada, fortalecido contra os rigores de uma região aliás salubérrima e com o corpo já afeito às peculiaridades do ar estrangeiro e transmarino, partiu para as capitanias da Paraíba e do Rio Grande, em longa viagem por terra, a fim de organizar as províncias, cidades e aldeias e prover os acampamentos de fortificações, soldados, armas e vitualhas. Mas, passando para estas províncias, não seria razoável ignorarmo-lhes a índole, a situação e as produções, pois elas ministraram matéria fecunda às guerras e ao tráfico dos nossos.

Descrição da Paraíba - Rios - Filipéia, hoje Frederica

A Paraíba [^nota-81] está entre as quatro capitanias setentrionais. Tomou o nome de um rio que a banha, assim como um outro - o Mamanguape [^nota-82]. Segue-lhe logo a colônia de Itamaracá. Ocuparam outrora a Paraíba os franceses e, expulsos estes, os portugueses e por último os holandeses. Não possui outras povoações senão os lugarejos dos engenhos, que, pela multidão dos trabalhadores, constituem verdadeiras aldeias. Na margem meridional do rio há uma cidadezinha - Filipéia -, assim chamada em honra do rei Filipe. Agora, mudadas as partes, recebeu o nome de Fredericópole ou Frederica, em honra de Frederico, príncipe de Orange. As regiões