Mulatos .ou ao temperamento inato dos homens, recebido dos pais, ou a uma e outra coisa, principalmente quando, mesclando-se entre si brancos e negros, nascem os trigueiros, corrigida a negrura por uma coloração mais clara, por se confundirem os elementos geradores. É o tipo que os espanhóis denominam mulatos. Os romanos chamar-lhes-iam híbridos, isto é, gerados de pais desiguais, como os semi-ferozes, nascidos de ferozes e de mansos. Neste sentido Suetônio, na vida de Augusto, chama híbrido a certo Epicado [^nota-68] de Temesas [^nota-69], por ter nascido de pai parto e de mãe romana. Grégoras [^nota-70] designa esses mestiços com a denominação de gênero gasmúlico [^nota-71].
O rio Niger
Dos negros fizeram menção Plínio, Estrabão, Estéfano [^nota-72]: aqueles lhes chamam negritas, e o último negretas e ao rio Negreta.Este cresce, como também o Nilo, no mês de Junho, quarenta dias inteiros, durante os quais a região submersa faz-se navegável. Em conseqüência da cheia, cobrindo-se de pingue aluvião e limo, exubera com extraordinária produtividade. Por Claudiano, no Panegírico de Estilicão, é o Niger denominado Gis ou Gir: "Et Gir notissimus amnis AEtiopum" [^nota-73]. - e em Sidônio Apolinário talvez se deva ler - "Indorum Ganges, Gothorum Phasis, Araxes Acmeniae. Gis AEtiopum, Tanaisque Getarum" [^nota-74] -, em vez do que ora se lê - "Tagus AEtiopum" -, o qual se há de procurar na Espanha e não entre os etíopes.A língua destes negritas varia com as terras, sendo também diversa a religião. No sertão há cristãos, maometanos e gentios. Os da beira-mar são idólatras. Em certas partes adoram o Sol, a Lua e a Terra. Cuspir nesta é pecado para eles.
Costumes dos negritos
Sarjam eles próprios a pele e pintam-na com um ungüento corado, espetáculo para eles belo e para nós feio. Enquanto almoçam, abstêm-se de beber; depois de almoçarem, bebem água ou vinho de palma. Uns há que furam o lábio superior e pelo buraco e narinas introduzem pedaços de marfim, tornando-se com isto, ao que lhes parece, lindíssimos. Alguns ainda, furam o lábio inferior, deitam por ele a língua como de outra boca. Trazem outros, no próprio septo nasal, marfim ou conchas. Tingem de vermelho um dos olhos e de azul o outro. As mulheres mais ricas prendem às coxas grandes anéis de ferro, de latão ou de estanho. Enfim, comprazem-se admiravelmente em sórdida e fétida barbárie.Com largo lucro dos espanhóis e portugueses, são transportados daquelas costas para o Brasil e para as Índias Ocidentais, a fim de naquele trabalharem principalmente no fabrico do açúcar, e nestas