História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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cavarem as minas. Tolerantísimos dos labores, alimentam-se com pouco. Nascidos para sofrerem a inclemência da natureza e miséria da servidão, por muito dinheiro são vendidos como escravos.

O Conde Bagnuolo devasta o Sergipe del Rei - Expedição contra o Sergipe del Rei, sob o Coronel Schkoppe, por estar Nassau atacado de febre - Torre Garcia de Ávila.

Enquanto realizamos a nossa empresa na África, o Conde de Bagnuolo, com cerca de 2.000 soldados, arrastando mais propriamente do que levando a guerra ao Sergipe del Rei, mandados para ali pequenos troços, infestava-nos as terras, lavouras e engenhos, queimando, talando, saqueando. Em conseqüência, resolveu Maurício expulsar daquela posição ao conde espanhol. Detido, porém, por grave enfermidade, com as forças quebrantadas pela pertinácia de uma febre contínua, que durou três meses, confiou a ação ao coronel Schkoppe, militar ardoroso e prudente. Convocando as companhias estanciadas às margens do São Francisco, em Alagoas, no Cabo de Santo Agostinho, no próprio Recife e em Muribeca, mobilizou-as contra o inimigo. Teve Schkoppe para companheiro de armas e consultor João Gisselingh, membro do Conselho Supremo e Secreto. Já estavam armados 2.300 soldados, 400 índios, que Nassau chamara de suas aldeias, e 250 marinheiros, os quais Gisselingh, com extraordinária diligência aprestava para a guerra. Mandou-se o almirante Lichthart andar ao pairo diante da Baía de Todos os Santos, a fim de atrair do interior o inimigo. Suspeitou Bagnuolo que Maurício usara aquele plano para lhe fechar o caminho e impedir aos seus o retrocederem, e, sendo informado de que Nassau fazia suas tropas passar o São Francisco, aproximando-se, conduziu o seu exército para a Torre de Garcia de Ávila, situada 14 léguas de S. Salvador, para o norte, e fê-lo com tal celeridade que arrastava os soldados, sem lhes dar descanso nem de dia, nem de noite. Ouvira dizer que as forças holandesas já se achavam presentes, tendo penetrado 20 léguas além do Sergipe, para a banda do sul.

Bagnuolo abandona o Sergipe - O Sergipe é abundante em gado.

Schkoppe, desalojando a Bagnuolo de suas primeiras posições, arrasou a própria cidadezinha do Sergipe, os engenhos dos adversários e os pomares. Feita esta devastação, reconduziu a soldadesca, com incrível velocidade, para as margens do São Francisco. Acampando aí, por ordem do Conde, na margem meridional do rio fez alto algum tempo, para que, apoderando-se do gado, oprimisse os contrários com os incômodos de fome certíssima, o que, segundo a praxe militar, foi ardorosamente executado pelos nossos. Encontrando três mil cabeças de gado, voltou cada um para as suas guarnições. O fato seguinte mostra a abundância de gado que tem essa região: demorando-se ali Bagnuolo, abateram-se 5.000 reses e tangeram-se 8.000 para o consumo futuro da soldadesca; por nós foram