História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Elogio de Maurício.

bárbaros transmarinos. E todavia, recebeu o governo do Brasil esses incrementos mais pela energia e arrojo dos ânimos do que pela robustez dos corpos. Portanto, admire-se nisto mormente a discreta prudência de Maurício, dando-se-lhe acesso a uma glória semelhante à de outros capitães batavos que fizeram guerras no além-mar. Sua façanha, sem dúvida, é comparável, na celeridade e na celebridade da vitória, aos muitos e grandíssimos louvores de outros generais. A estes não desprazerá que fique ligada a uma parte da minha narração a vivacidade e a presteza vencedora de tal soldado.

Koin é recebido como vencedor

Os holandeses receberam Koin, por causa dos seus preclaros feitos em prol da honra pública, indo-lhe ao encontro com felicitações e salvas de canhões. Agora é ele, sob o Príncipe de Orange, tenente-general de artilharia e, com os seus triunfos na África e a sua patente na Europa, ilustra a nobreza de Meissen, da qual procede.

Com que direito foi levada por Maurício a guerra à África.

Interessa-te, leitor, saber o seguinte: logo que se incorporou a Companhia das Índias Ocidentais, antes separada em diversas câmaras e sociedades de comércio, entraram a fazer dela parte não só o tráfico dos que navegavam para a ilha de S. Domingos, Cuba e outras, mas também o trato da África, o qual era ali exercido, assaz lucrativamente, com cerca de vinte navios. Fundeados não longe da costa, deles se aproximaram os africanos em exíguos barcos, trocando, a exemplo de Diomedes e de Glauco, ouro, marfim, ébano, produtos para nós preciosíssimos, por ferramentas, corais, espelhos, tesouras, objetos vilíssimos. Por esta razão, aquilo que nessas plagas se achava em poder dos holandeses estava igualmente sob a jurisdição de Maurício e do Conselho Supremo do Brasil.

Ilíada. 7 - Odisséia 1 - Just. I, 3 - Solino, cap. 35.

Essa forma de comerciar, já por mim mencionada, permutando-se as utilidades, é a mais antiga e a mais simples. Fez-se assim, nos tempos de Tróia, quando o exército grego estava sempre escambando vinho de Lemnos por bronze, ferro, couros de boi, bois e pelos próprios escravos. Palas, partindo para a Ítaca diz que ali fora para trocar o bronze de Temese por ferro mais luzente. Licurgo, rei de Esparta, decretou que nada se adquirisse com dinheiro, mas pela permuta das coisas necessárias. Também os antigos britanos recusavam moedas: davam e recebiam coisas e obtinham o necessário, antes trocando que comprando. Tal foi ainda familiar a outros bárbaros, mas não que o fossem por isso. Aristóteles declara esse modo de comerciar mais congruente com a natureza e as necessidades