História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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sofrerem as mulheres e as crianças; levar cada uma sua roupa, mas nada de ouro nem de prata, lavrados ou não; pertencerem ao vencedor as mercadorias e escravos, menos doze, que por bondade ele concede aos vencidos; carregarem todos os objetos sagrados e demais ornamentos dos templos, menos os de ouro e prata; serem transportados em nossos navios para a ilha de S. Tomé os portugueses e mulatos com suas famílias e providos de mantimento suficiente; dar-se anistia ao desertor Hermann; saírem da fortaleza, no mesmo dia, o governador e os soldados, entregando-se ao vencedor as chaves, todo o aparelho bélico e o remanescente das vitualhas; retirarem-se os soldados sem honras de guerra, sem bandeiras, desarmados, sem morrões acesos, sem usar nenhuma praxe militar aceita.

Despojos.

Realizada a entrega da fortaleza, nela entraram Koin e Nicolau van Ypern, dispondo o que fosse necessário à proteção e segurança da mesma. Encontraram-se quinhentos africanos, que da aldeia da Mina se tinham recolhido ao forte com as mulheres e filhos, sendo todos despedidos, exceto os escravos, cujo resto eram 140. Na igreja se haviam asilado as famílias dos portugueses com suas bagagens e alfaias. No morro sobranceiro ao forte colocou-se uma torre, e teria Koin levantado ali fortificação maior e mais sólida, se, temendo despesas, não achasse deveria comunicar isto antes aos Estados Gerais e aos administradores da Companhia. Assim, transmitiu-lhes uma planta do castelo por construir, bem como o desenho da praça sitiada e vencida, e pediu bastimentos que lhe permitissem conservar o que ganhara.No forte acharam-se 30 peças de metal, 9.000 arráteis de pólvora, 800 balas de ferro para canhão, 300 de pedra, 10 cartuchos de mosquete, 200 arcabuzes holandeses, 36 espadas espanholas, além de enxadas, machados e outros instrumentos congêneres, os mais deles enferrujados. Saindo a guarnição, que foi conduzida para a Ilha de São Tomé, ficou Marburg com 140 soldados para guardar o forte. A bravura e zelo desse homem estavam acima da inveja, e por isso o reclamava, por direito e por mérito, o comando da praça, pois não é possível ocultar a brilhante valentia dos militares, e, uma vez conhecida, não se lhe dar o devido apreço.Tendo realizado tais coisas no espaço de seis dias, dispôs Koin convenientemente o que importava à defesa do forte, julgando igualmente nobre vencer as fortalezas e, vencidas, restaurá-las. Depois retornou vitorioso para o Brasil, com a esquadra e o exército, tendo incutido o terror nas terras africanas e difundido a fama das nossas forças e da nossa guerra através dos vastos reinos dos