História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Rende-se a fortaleza. 29 de agosto de 1639. Condições.

todos, pois ele ia, sem demora, tentar os recursos extremos. Respondeu o governador que não se atreveria a tanto, sem consultar os comandantes da milícia e os cidadãos da Mina, pedindo no máximo três dias de prazo. Segunda vez exige-lhe Koin a entrega da fortaleza, concedendo o dia imediato para termo da deliberação e ordenando-lhe peremptoriamente que detenha os seus soldados e africanos nos seus postos para não praticarem violências, ao contrário faria ele Koin o mesmo. Entretanto, como ao declinar do dia e fechadas todas as portas, recusasse o capitão da praça receber o tambor naquela mesma tarde, Koin, conduzindo toda a soldadesca para o morro, arremeteu, novamente alentado, contra os sitiados, detonando os morteiros, cujas balas foram inutilmente disparadas e inóxias. Mandou-se a todos os trombeteiros presentes que entoassem nas suas trombetas o hino em louvor do Príncipe Guilherme de Orange, de bom agouro e familiar aos cidadãos das Províncias-Unidas. Com ele o soldado, às vezes descoroçoado e remisso, se inflama em mais vivo ardor guerreiro. No dia seguinte continuou o furor da artilharia a danificar o forte, pois aí se achavam os inimigos. Pediram fosse entregue a carta da véspera, dizendo, para se desculparem, que o governador da praça pusera dificuldades em receber o tambor, porque já caía a tarde. Koin, mostrando no semblante a sua indignação, respondeu que a carta fora rasgada e que não era honroso para ele experimentar outra vez por carta a obstinação do governador: exporia ele próprio e consignaria por escrito o seu pensamento sobre a capitulação. Vieram logo os parlamentários com quem se devia pactuar. Nesta ocasião, ordenou-se aos negros de Comenda, que planejavam agressão contra os moradores da Mina, que depusessem as armas e desistissem de violência. Os sitiados apresentaram a Koin os artigos da capitulação que eles próprios haviam redigido, e, rejeitados os mesmos, consentiram na fórmula de Koin. Dados três reféns, o capitão Walrave Marburg e o quartel-mestre entraram na fortaleza com os soldados. O pacto, quanto às praxes de milícia mais briosa, foi assaz vergonhoso, pois se acreditava que os contrários poderiam agüentar o cerco mais tempo, por causa dos fossos duplos, de 25 pés de largura, que rodeiam o forte, e das ameias que o coroam. Ainda mais dificultava o assédio o assento da fortaleza, porquanto poderia ser guardada com poucas sentinelas, sendo inacessível mediante minas à conta dos rochedos. Segundo me informei, foram as seguintes as condições da rendição: saírem todos sem intimação, nem agravo, nem injúria, com o corpo e a vida incólumes; ser-lhes livre retirar esposas e filhos, sem nada