História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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brava e intrepidamente contra o inimigo, que se aprestava para o combate. Debandando-se este ao primeiro encontro, deu o almirante um assalto contra as trincheiras que tinha pela frente, e delas se apoderou após aceso combate. Morreram dos seus o capitão Normann e outros. Avançando em seguida contra a cidade, achou-a vazia de mercadorias, alfaias e moradores. Absteve-se de arrasá-la, pois, pobre, de nenhum proveito seria ela, e voltou para Pernambuco, sem qualquer glória de tomadias, transportando para as naus só alguns canhões de ferro tirados daquelas trincheiras.A cidadezinha estava assentada num monte, o qual se erguia, na parte mais elevada do continente, semelhante a uma península. Era ela decente, com casas não deselegantes, feitas de pedra, tendo quatro igrejas, a casa dos jesuítas e conventos. Não deixaram os cidadãos que fosse nossa nem deles uma nau de carga que levava de Portugal, azeite e vinhos, pois lhe deitaram fogo mesmo no porto.

Expedição contra a fortaleza africana de S. Jorge da Mina

Por esse tempo, anunciou-se a Nassau haverem os holandeses tomado S. Jorge da Mina, fortíssima praça no litoral da África e ali o principal reduto e guarnição do rei da Espanha. Esta vitória trouxe muita glória e prestígio a Nassau e grande proveito e força à Companhia, por causa da proteção e segurança que ofereceria ali aos mercadores. Ordenou-se, por isso uma pública ação de graças em todas as províncias, honrando-se a Deus, principal autor da vitória, e mandou-se aos comandantes locais testificar o seu regozijo com três salvas de artilharia e de mosquetaria.Tendo sido esta expedição empreendida a conselho e sob a direção do Conde, obriga-me a deter-me nela um pouco para dar uma resenha desta guerra encarniçada e breve.

S. Jorge da Mina. Sua descrição - S. Tiago

A praça referida, vulgarmente chamada o Forte de S. Jorge da Mina, está situada na África, na costa da Guiné, a 5° de latitude setentrional . Pela natureza do lugar, considerou-se difícil de expugnar, pois está construída num rochedo, que a resguarda, com as muralhas nele talhadas e postas sobre grandes pedras. Defendem-na quatro baluartes, dois que olham o mar e dois o continente, aterrando, de um lado, ao marinheiro e, do outro, ao inimigo vindo por terra. Do poente, fica-lhe a cavaleiro um morro, que tira o nome de uma capela de S. Tiago. Dali fica a fortaleza exposta à violência da artilharia . Ao sopé do morro, correndo-lhe ao longo, há uma povoação habitada por negros. Ao oriente, rasga-se uma angra, vantajoso abrigo para os navios. Com esse forte protegem-se os