História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Cumpria persuadi-los ao respeito e à fé em Jesus Cristo, filho de Maria, como o Messias prometido e havia muito nascido. Quanto aos papistas, convinha mostrar-lhes as épocas dos erros nascidos na Igreja, abolindo-se a convicção de reconhecerem a autoridade, e esta infalível, de um só chefe supremo na terra.Desta sorte, a piedade do Conde serviu, bem e constantemente, ao poder da Companhia, não só apoiando a religião oficial, mas também tolerando prudentemente as alheias.

Deliberações relativas à transferência da sede do governo para Itamaracá - Prefere-se Recife a Itamaracá.

Por esta ocasião, era a ilha de Itamaracá grandemente louvada e recomendada na Holanda entre os próceres do império batavo-brasileiro. Já se falava com insistência em transferir para ela a sede do governo. Significaram-lhes, porém, o Conde e os conselheiros a desvantagem e inutilidade daquela mudança. Tinham perlustrado o lugar e examinado todas as condições da ilha: tudo lhes aparecera despovoado e selvagem, com raros moradores e apenas algumas habitações. Em Recife encontravam-se casas de gêneros, arsenais, armazéns de mercadorias, e tudo isso se teria de construir em Itamaracá com grandes gastos. Recife era localidade mais amena, fértil e fortificada, dando fácil acesso aos maiores navios, num porto cômodo e num excelente surgidouro. O rio de Itamaracá só poderia ser navegado por navios menores, sendo estéril e inculto o solo circunjacente, e o porto cheio de bancos e já mal afamado pelo naufrágio de várias naus. Os dois lugares - Itamaracá e Recife - reputavam-se iguais na salubridade dos ares e em outros benefícios da natureza. Na ilha eram abundantes as águas doces, mas também no Recife poderiam ser transportadas do rio Beberibe por negros, com um caminho de meia hora. Além disso, no Recife havia poços, que, em tempos de cerco, forneceriam água potável e bem assim existia lenha, ainda que mais cara. Por essas razões, continuaram na sua antiga sede o Governador e os Conselheiros do Brasil.

Desembarque de Lichthart, na Capitania de Ilhéus.

Entretanto, - para memorarmos assuntos guerreiros -, o valorosíssimo e habílissimo almirante Lichthart, pouco havia, percorrera, em naus grossas e ligeiras, devidamente guarnecidas, o litoral da Baía de Todos os Santos, na expectativa de presa. Depois de se ter acolhido à enseada de Camamu para reparar as suas naus, e de ter incendiado casas, fazendas e lavouras dos inimigos, para destruir o abastecimento dos baianos, aportou à capitania de Ilhéus, junto à cidade do mesmo nome, havendo sofrido uma tempestade de três dias. Se bem houvessem sido os moradores informados da sua chegada, desembarcou com uma força de 150 soldados, marchando