História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Companhia quanto o florescerem e crescerem, dali por diante e sob a dominação holandesa, a fortuna, a riqueza, o comércio dos portugueses que deram provas de sua fidelidade e obediência.Esta resposta branda e moderada levou os vencidos a formarem opinião mais justa do nosso domínio, falando dele com mais acatamento e obedecendo-lhe de melhor grado.Pouco depois respondeu-se, mais ou menos no mesmo sentido, a uma representação semelhante dos portugueses que, na Paraíba, tratavam dos interesses de seus compatriotas.

Decretos vários sobre décimas, pesca, pesos, etc.

Decretaram-se muitas outras providências relativas às décimas do açúcar e da farinha em Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, e também sobre pescas marinhas, pesagem de mercadorias, passagens de rios e por água, e, arrematadas estas em hasta pública, renderam consideráveis somas anuais e semestrais. Além disso, coibiram-se fraudes dos mercadores e os prejuízos dados por eles, aferindo-se os pesos e medidas com o padrão e segundo a norma da praça de Amsterdam.

Maurício cuida com diligência do que se refere à religião.

Considerando Nassau que deviam pospor-se à religião todas as coisas, ainda aquelas por meio das quais quis tornar conhecida a glória do seu governo, nunca teve os olhos desviados da escrupulosa observância daquela, pois não ignorava que, pelo progresso e em defesa do seu governo, velava a bondade de Deus, por quem são observados com sério cuidado todos os movimentos da piedade. E não obstaram as seitas dissidentes que mantivesse ele seu respeito e zelo votados à religião. Seu primeiro cuidado, portanto, foi nomear em todas as províncias ministros do culto reformado, que recitassem as preces, quando se tivesse de pedir alguma coisa a Deus; que doutrinassem aos ignorantes da verdadeira religião; que, tendo-se de dar graças a Deus, as dessem em nome de todos; que, tendo-se de imprimir nos piedosos o favor divino, administrassem os sacramentos [^nota-63]. Além destes, designaram-se os que formassem a puerícia, ministrassem os rudimentos da fé ao paganismo obcecado e espancassem, com a centelha de melhor doutrina, as trevas de uma profunda ignorância. Para conseguir-se isto regularmente e com esperança de piedoso fruto, Maurício e os predicantes públicos acharam que se deveriam tratar de maneira diversa os pagãos, os judeus e os papistas. Quanto aos pagãos, eram de parecer que se fazia mister suprimir-se o culto supersticioso de vários deuses, elevando-se-lhes o espírito à adoração de um só Deus. Quanto aos judeus, era preciso desarraigar-lhes a inveterada opinião de observarem a lei mosaica e de esperarem a restauração do reino de Jerusalém.