História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Forte de Nassau .portugueses contra os nossos, que, por sua vez, se defendem com outro forte, o de Nassau.

Antes foi São Jorge atacada inutilmente pelos nossos..

Matança dos holandeses.

Os mercadores portugueses pagavam anualmente ao rei da Espanha 120.000 ducados, com a condição de terem naquelas regiões a exclusividade do tráfico. Em 1625, procuraram os diretores da Companhia ganhar aquela praça, mas numa tentativa inútil, conquanto tivessem ali desembarcado soldadesca assaz numerosa. Vagueando esta, desprevenida e negligente, abatida com o calor atacou-a um punhado de negros com tal celeridade, que os soldados mal acreditaram ver aqueles cuja chegada não tinham percebido. Travaram antes uma carnificina do que uma peleja, contra os nossos, sem nenhum destes resistir varonilmente. Comandantes e soldados, pondo-se em fuga como se lhes fosse incutido um pavor celeste, eram mortos como gado, aumentada pela precipitação a chacina. Em toda a parte era um espetáculo consternador e semelhante a uma carniçaria. Os bárbaros, que a nenhum poupavam, fizeram tão violenta irrupção, que muitos, sem saber nadar, se afogaram no mar, sofrendo morte horrível, e outros, num terror estúpido, lançavam fora as armas, não podendo ninguém conter o ímpeto dos africanos, o qual eles reputam valor. Como os portugueses, guardas da fortaleza, tivessem posto a preço as cabeças dos vencidos, ocupando-se nesse açougue e matança os negros, em breve espaço reduziram-se os holandeses apenas a uns poucos. E foi em verdade tão intenso o horror dos nossos soldados, que se atribuiu a milagre escapar alguém daquela hecatombe. Foram mortos 450 homens entre comandantes, soldados, marinheiros, todos decapitados e ficando os cadáveres irreconhecíveis.Abatidos de desespero e vergonha os ânimos dos nossos, e conhecida a perfídia dos régulos, que simulavam amizade e proclamavam, em palavras vãs, a concórdia, perfídia essa que se patenteava no recente transe da República, partimos sem glória e ensinados a comerciar e a guerrear ali mais cautamente. Aquele desastre foi devido à negligência dos comandantes, e, como acontece na guerra, cada um lançava a culpa sobre o outro.

Nicolau Van Ypern escreve ao Conde

Nessa quadra assumia Nassau o governo do Brasil. O governador holandês do território africano, Nicolau van Ypern, varão digno de memória, em carta expôs ao Conde que, em ótima ocasião e com esperança mais certa, se poderia outra vez atacar a fortaleza, contanto que se lhe enviassem tropas auxiliares e armas necessárias para a guerra. Os soldados do Conde estavam ociosos por causa dos meses chuvosos, e o inimigo fora afugentado para longe