História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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ânimo da soldadesca e granjeou para o Conde o respeito dos inimigos .Estas ações, relatadas minuciosamente aos Estados Gerais c aos diretores da Companhia, auguraram venturosamente o comando do Conde, tornando-o afamado; na Pátria e nos países estrangeiros era ele enaltecido pelos elogios de muitos. Escrevendo ele próprio, de Penedo, a S. A. o Príncipe de Orange, stathouder das Províncias-Unidas, a respeito do que já antes fizera, exprimiu-se nestes termos:

Carta do Conde ao Príncipe de Orange.

"Depois de vos haver escrito sobre tudo quanto em benefício da Companhia fizemos até hoje, nas nações estrangeiras por meio do coronel Artichofsky, com sucessos militares assaz prósperos, dirigi-me, em marcha acelerada, contra o inimigo, julgando oportuno utilizar-nos do nosso êxito e do favor divino. Impaciente da nossa chegada, partia ele das Alagoas, atravessando certamente como fugitivo, os rios que correm de permeio, e penetrou até o Penedo, vilazinha às margens do São Francisco. Aí também, receoso dos perseguidores, não soube demorar-se, para não expor ao perigo os remanescentes de seu exército, e, transposto o rio, abandonou todos os petrechos bélicos que se achavam na margem setentrional. Se não nos houvera retardado, derribando para trás as pontes que cumpria reconstruir, haveria esperança de colhermos às mãos o próprio general Bagnuolo com muita gente de armas. Os mosqueteiros e cavaleiros por mim enviados na frente viram-no fazendo atravessar o último dos seus. Ainda assim os que mandei ganharam nas bagagens presa não despicienda. Logo ele se evadiu, demandou com as suas tropas a capitania e cidade da Baía de Todos os Santos.Contentes de havermos expulsado o inimigo de toda a capitania de Pernambuco, aí firmamos a nossa vitória e demos por satisfeitos os votos da primeira campanha. Julgo esta capitania própria para prosseguirmos na luta contra as terras inimigas, mormente no sítio onde o rio de São Francisco, de notável largura noutros pontos, estreita o seu álveo. Por essa razão levantei-lhe na margem, a 6 léguas da costa, um forte bastante sólido, cuja planta mostra o incluso mapa, resolvendo colocar outro menor na própria foz. Em outra parte não se encontra um rio tão célebre e tão vantajoso, pois em certos trechos é tal a sua largura que não o atravessava uma baía de canhão de seis libras; e é tal a sua velocidade e ímpeto, que as suas águas, impelidas longe da foz até alto mar, se conservam doces. Sua profundidade é tal que atinge 8,12 e 15 côvados. É de acesso