História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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fazê-la e medir as próprias forças para não se tentar uma façanha sem resultados, e para uma audácia precipitada não diminuir o bom nome do governo iniciado. Sabe-se em verdade que as tropas aparelhadas sustentam melhor as guerras do que as levas violentas e tumultuárias.

O primeiro cuidado de NASSAU é informar-se do estado da milícia - Guarnições distribuídas. Reservadas para a guerra. Bastimentos - Armamentos. Prudência do Conde.

Todo o contingente militar foi distribuído em dois corpos, um destinado às guarnições, outro às campanhas. Ficaram nas guarnições 2.600 homens, que se repartiram pelas praças de Recife, do Rio dos Afogados, do Cabo de Sto. Agostinho, de Itamaracá e da Paraíba. O corpo reservado para campanha foi dividido em duas tropas: a maior, para atacar o inimigo, com 2.900 homens; a menor, de infantaria ligeira com 600. Estes surpreenderiam e estorvariam o inimigo noutras partes e espreitariam as ocasiões. Depois providenciou Nassau vitualhas e transportes, imitando nisto a previdência dos romanos. Informou-se minuciosamente da provisão de pão, biscoito, toucinho, legumes, carnes, queijo e vinho existente nos navios e armazéns, pois sem isto a soldadesca se torna agastadiça e indisciplinada. Começou também a recensear os armamentos, arrolando as armas brancas e as de fogo, a artilharia, os arcabuzes, os mosquetes, as espingardas, etc., a pólvora, as naus e petrechos náuticos nas costas e nos portos. Encontrei notada a escassez de morrões, lançando-se a culpa disto aos administradores europeus da companhia. Mas a necessidade, valendo-se do engenho, por uma nova arte, fabricou morrões, servindo-se de casco de árvores. Não eram, porém, de boa qualidade, porque se apagavam logo. Houve também, para dizer verdade, tal carestia de mantimentos que, depois de se abastecerem os acampamentos para dois meses, distribuindo-se aos soldados ração assaz estreita e fraca, ainda assim mal sobrou com que alimentar as guarnições, as quais tiveram de viver parcamente e com fraude do apetite. Daí queixas e murmurações dos soldados jejunos, as quais dificilmente se aquietaram com as palavras brandas e as promessas liberais dos Comandantes. Portanto os soldados holandeses, habituados a comer à saciedade, não toleram os jejuns que facilmente suportam os soldados vindos de lugares confragosos e de terras pobres. O Conde, por édito, permitiu a cada um levar para os quartéis as provisões que quisesse, simulando-se deste modo fartura de tudo, para que nem o inimigo, informado de nossa penúria de mantimentos nos acometesse mais audaz, nem a soldadesca se amotinasse nos arraiais.Tomadas estas providências entre os seus, procurou Maurício conhecer as posições do inimigo, suas forças e aprestos, à maneira