História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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que os holandeses conquistassem ou esperassem fazê-lo; 3) superintenderia tudo o que se referisse ao bem público, à boa ordem e disciplina dos cidadãos, à guerra, às alianças e pactos e à justiça; 4) removeria todos os abusos e providenciaria para que não sofresse a república detrimento algum; 5) em campanha, caber-lhe-ia prover as patentes militares nos mais idôneos; durante a paz e nos quartéis de inverno, escolhê-los-ia para tais provimentos dentre os poucos que o Conselho indicasse; 6) decidiria também sobre honras e funções civis; sobre a conveniência de construir, transferir ou demolir fortificações; sobre a sede do Governo e do Conselho; 7] regularia o trabalho e remuneração dos brasileiros e dos índios; 8) resolveria sobre a substituição dos conselheiros e dos oficiais, com a ratificação dos diretores da Companhia.Estas e outras cláusulas foram sancionadas por fé pública, para que aos administradores supremos de negócios tão relevantes constasse uma regra certa das funções do Governador, ficando as partes adstritas a um escrúpulo de consciência.

Partida para o Brasil em 25 de outubro de 1636 - Votos públicos dirigidos ao Conde.

A princípio foi prometida ao Conde uma esquadra de trinta e duas naus para ele ir tentar a fortuna no Novo Mundo. Entretanto os diretores, diminuindo a sua avidez de ousadias, convieram depois em doze, que levariam 2.700 soldados. Para evitar uma delonga prejudicial, companheira das grandes empresas, Nassau, já disposto para os trabalhos e as fadigas, resolveu partir numa esquadra ainda desapercebida, como acontece de ordinário em tais circunstâncias, e com soldados mal aprestados, com os quais ia passar à América, em quatro navios somente. No outono do ano da graça de 1636, zarpou ele do porto de Texel, com o pleno assentimento e a mais firme esperança de todas as classes sociais. O navio que conduziu o capitão-general tinha o nome de Zutphen. Os soldados não excediam 350, que mal o garantiriam contra os ataques dos espanhóis da Flandres e de Dunkerque. À sua partida, foram deles despedir-se e levar-lhe os votos de felicidade e boa viagem os membros dos Estados Gerais, o Príncipe de Orange, os diretores da Companhia e os cidadãos mais considerados, persuadidos de que iria ele dar um exemplo novo de felicidade e de sabedoria política e militar. Divulgada a notícia de tão gloriosa expedição, era voz geral que, com semelhante general, se podiam acalentar outras esperanças sobre tão importantes cometimentos; que seria ele o sustentáculo do continente americano; que daria vigor às nossas armas e dignidade ao nosso império; que ninguém era mais moderado e prudente; que, nas campanhas pátrias, aprendera as dificuldades e