História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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os lances da milícia; que ia guerrear com o auxílio de soldados comedidos e obedientes; que pela sua fama, seria terrível aos inimigos, caro aos seus guerreiros alemães, por serem patrícios e que aplacaria aos bárbaros com a sua brandura e mansidão.

Crê-se que as Sorlingas sejam - as Cassitérides de Ptolomeu - Por uma tormenta é tangido para a Inglaterra.

Depois de ter navegado, com dias serenos e ventos propícios, o Canal de Inglaterra, já próximo às Sorlingas (são as Cassitérides de Ptolomeu), o mar, turbado por furiosa tormenta, flagelou com graves incômodos os inícios da travessia. Tem-se observado várias vezes que as potências celestes recebem iradas as expedições ultramarinas. Isto sucedeu a Agamemnon, a Enéias, a Xerxes, a Germânico, a César e a outros que empreenderam façanhas extraordinárias, ou porque os novos reinos devam ser sagrados com a adversidade, ou porque o desejo de poderio deva ser coibido com o temor dos perigos. Consultando os capitães das naus sobre a conveniência de se ferrar o primeiro porto, desagradaram ao Conde tais delongas, conquanto desafeito ao mar, e manda prosseguir a viagem, sem interromper a navegação. Crescendo, porém, os perigos com os mares procelosos, tornados mais formidandos com os rigores do vizinho setentrião, a prudência, condescendendo com o temor, aconselhou que se recolhessem a Falhouth [^nota-51]. Já a Zutphen fizera água e mal emergia. Com altas vagas encontrava o mar grosso os navios, que, pelo furor dos ventos contrários, estavam a pique de encalhar nos parcéis e rochedos das Sorlingas.

Detém-se em Falmouth.

Enquanto se aguarda em Falmouth tempo mais favorável para navegar, S. Majestade Sereníssima, Carlos I da Inglaterra, tendo tido conhecimento de se achar o Conde João Maurício em porto inglês, ordena ao governador daquela cidade e à nobreza dos arredores cumprissem para com Nassau todos os deveres de cortesia e providenciassem todo o necessário aos reparos de sua frota. Tudo foi ministrado com abundância e boa vontade.

Presságios.

Tenha embora quase desaparecido em nossa gente a crença em augúrios e portentos e não cuidem os mais sensatos que Deus se envolva facilmente nos casos fortuitos, notou-se, todavia duplo presságio não totalmente desprezível. O primeiro um peixe que saltou do mar no convés, quando se passava perto de Dunkerque. Chamam-lhe "badejo grande" para distingui-lo do menor denominado "pescada". O segundo foram cinco perdizes vindas das costas da Inglaterra, as quais entraram na Zutphen onde ia o Conde e na Pernambuco, servindo de prazer e presa espontânea para os marujos. Segundo a conjectura risonha dos pressagiadores, acreditou-se que esses prenúncios prometiam a obediência e o pavor do