História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Elogio do Almirante.

Quero, de passagem, consignar aqui algumas palavras em louvor do almirante Pieter Heyn. Nenhum homem de qualquer nação perpetuou o seu nome por mais famosas tomadias, fazendo que sua Pátria jamais deixe de se ufanar de tal filho. Dificilmente se poderá encontrar alguém cuja sorte se iguale à de Heyn. Depois de ter sido grumete, de ter sofrido algemas e cárceres do inimigo e naufrágios, alcançou honras elevadíssimas, triunfos notáveis e, sob o Príncipe de Orange, a mais alta patente da marinha. Morreu vitorioso, pelejando gloriosamente pela salvação da Pátria. Foi sepultado a expensas públicas, havendo o governo mandado erigir na catedral de Delft uma lápide, que testemunhasse perenemente o seu destino e subidos méritos. Nascido em Delft, fez conhecer a dois mundos a fama do solo pátrio. Ultrapassando pela grandeza do ânimo a humilde condição dos pais, ensinou que os homens não nascem heróis, mas se tornam tais pelo próprio esforço.

A Companhia auxilia a Pátria em dificuldades

Por essa época (1629), a Companhia Ocidental provou eloqüentemente o seu poder e a sua fidelidade à Pátria (o que fez também a Oriental), quando o inimigo invadiu Veluwe [^nota-35] e ocupou Amersfoort [^nota-36] . Perturbando-se um pouco a situação no canal do Issel, pela improvisa passagem dos inimigos, quando todo o exército das Províncias-Unidas se empenhava no cerco de Bois-le-Duc, ela empregou as suas milícias, destinadas para a expedição do Brasil, em guardar as localidades fronteiriças, e acudiu fartamente às necessidades públicas com o dinheiro então abundante em conseqüência da presa recente ganha por Heyn. Todo o direito assiste, pois, à Companhia, ora em situação precária, para receber da Pátria incólume os serviços que antes, quando as suas condições estavam sólidas e garantidas, prestou à nação oprimida.

Expedição de Loncq ao Brasil - A de Adriano Pater.

Após Heyn, partiu para a América, investido no comando supremo, Henrique Loncq, veterano da marinha de guerra e companheiro dos labores e das honras de Pieter Heyn. Atacando o Brasil pela segunda vez e tomando Olinda, capital da capitania de Pernambuco, deu à Companhia este refúgio para a esquadra e esta nova base de operações para a guerra americana. Sucedeu-lhe, em igual posto e mostra de valor, o almirante Adriano Pater, célebre pelas muitas derrotas que, no Ocidente, infligiu aos espanhóis. Ousando pelejar - tamanha é a confiança inspirada pela bravura! - com a poderosa armada sob o comando de D. Antonio Oquendo, confundiu-se, na cruenta refrega, com os mais ardorosos combatentes; mas, abandonado pelos seus e repartindo quase a vitória com o