História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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adversário, tombou gloriosamente, infeliz somente por não sobreviver à batalha. A fortuna salvou a Oquendo para que ele desse ensejo assaz brilhante à glória futura dos holandeses. Foi dele, com efeito, que triunfamos alguns anos depois, na batalha ferida por Tromp junto às Dunas da Inglaterra [^nota-37], quando ainda era recente a fama da sua vitória sobre nós.

João de Laet, historiador dos feitos praticados no Brasil até o ano de 1636 - Elogio de outros comandantes.

No tempo intercorrente e no imediato a esses acontecimentos, diversos comandantes, em portos diferentes, praticaram na América façanhas notáveis, na terra e no mar, no continente e nas ilhas e bem assim nas costas fronteiras da África. Já foram publicadas, com a devida justiça, em livros de outros e por isso nelas tocaremos de vôo. Escreveu-as o eminente e autorizado João de Laet, dizendo livremente a verdade, não de simples oitiva ou com fácil credulidade, mas segundo a relação dos que participaram dos sucessos e segundo os diários respectivos. Para imortalizar-se foi bastante a cada um o ter triunfado de uma partezinha do Novo Mundo. Ali ainda os mais remissos ânimos encontravam estímulos para grandes arrojos. Cada qual aspirava a celebrizar-se com aquelas proezas, para as quais se diria em toda parte haver nascido, pagando com elas o preço do nascimento. A emulação alimenta as mais luzidas galhardias, e aquele fastígio de glória que alguém não pode galgar vencendo, pode ultrapassar ousando.Dificilmente se poderia avaliar se tão perfeita milícia mais acertadamente viu nascer no Ocidente tamanha coragem ou se mais eficazmente a inflamou. E porque era odioso às Províncias-Unidas o nome espanhol, esforçaram-se todos por arrancar um pedaço ao poder da Espanha, sem se contentarem com ações medíocres. Alguns, já ilustres nas campanhas neerlandesas, entrelaçaram os troféus da América com os da Europa, sendo os primeiros em mostrar aos bárbaros a nossa soldadesca e o aspecto das batalhas.Lendo esses feitos, virão ao pensamento os antigos capitães que passaram às terras inimigas para desviarem da pátria a violência da guerra. Régulo, Cipião, Mânlio, Paulo Emílio, Metelo, Pompeu foram como os Willekens, os Heyns, os Loncqs, os Balduínos, os Paters daqueles tempos, e assim como, a conselho dos primeiros, foram os antigos guerrear no ultramar, assim também, a conselho dos últimos, fizeram o mesmo os nossos contemporâneos. Antigos embora, a eles muito nos avantajamos, assim pela imensa distância dos lugares aonde fomos, como pela fereza e barbárie dos homens com os quais combatemos.