História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

Página 13


Sen. 113.

Ocidente. Também Sêneca julga infeliz aqueles que aspiram a levar para além do mar o direito de soberania.Tais eram as considerações que ocorriam tanto na conversação do vulgo, como na prática das pessoas avisadas, no grêmio de uma nação em extremo zelosa dos seus interesses e empenhada nos danos do seu inimigo.

Édito dos E. Gerais que permitia a navegação do Ocidente durante 24 anos.

Depois de longas deliberações, prevaleceu o sentir dos que aconselhavam a expedição à América. Ratificou-a um édito solene dos Estados Gerais, dispondo que a nenhum súdito holandês seria lícito, dentro de vinte e quatro anos demandar com objetivos comerciais o Novo Mundo e as costas fronteiras da África, exceto os sócios da Companhia. Obtiveram-se para a empresa autorização e auxílios públicos, adstrita a expedição às condições fixadas na patente expedida pelos Estados Gerais.

Teria sido conhecida dos antigos a América? - Diod. Sículo, L. IV. - Na Medita. - Liv. 19 da História da Espanha

A América ficou oculta aos antigos, que no curso de tantos séculos, nem mesmo a notícia dela nos transmitiram. O que diz Platão no Crítias e no Timeu [^nota-17], segundo a descrição de Solon, que, por sua vez, a ouviu dos sacerdotes egípcios, refere-se à Atlântida, situada além das Colunas de Hércules. Distaria da Espanha poucos dias de viagem e igualaria em tamanho à Europa e à Ásia. Teria possuído pelas armas a África até o Egito e a Europa até o mar Tirrênio. Era feraz de ouro e de prata. Esta ficção, misto de fábula e de exuberância de imaginação, indica dubiamente a América, e com mais certeza algum reino da Utopia [^nota-18], sonhado pelo gênio fantasioso de Platão. São opiniões dos intérpretes e não uma séria inferência da verdade ser a América a grande ilha de que fala Diodoro Sículo [^nota-19], situada para oeste, aonde foram ter, segundo ele, os fenícios, arrastados por uma tempestade, quando percorriam o litoral africano. Em verdade, não havia receio de que os Cartagineses, mais civilizados, abandonando Cartago, emigrassem para o meio de povos antropófagos e de nações de índole feroz, a ponto de se tornar preciso proibir-se-lhes, por éditos dos sufetas, a emigração para aquela ilha. Os versos em que Sêneca [^nota-20], o trágico, diz que, alargados os limites do Oceano, se descobririam novos mundos, deixando de ser Tule [^nota-21] a última terra, contêm apenas uma profecia poética e votos adulatórios dirigidos ao imperador Cláudio. A história contada por Lúcio Marieno Sículo [^nota-22], em sua Crônica de Espanha, acerca de certa moeda mostrando a efígie do imperador Augusto e achada numas minas de ouro de um lugar qualquer da América, é uma narrativa graciosa, mas por ingenuidade se lhe daria crédito. Tal é também a seguinte lenda muito agradável