História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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neerlandesas, vedou expressamente que, de modo algum, nem ela, nem o arquiduque, nem seus sucessores mantivessem quaisquer relações mercantis com os povos da Índia Oriental ou da Ocidental, nem as permitissem aos seus súditos. Se procedessem de outra forma, seriam privados do seu domínio sobre os Países-Baixos, conforme declara, em termos claros, o solene instrumento de cessão.Ninguém melhor que os inimigos sabe quanta força, grandeza e prestígio deu à nossa República o trato das Índias Orientais e quanto perdeu com isto a coroa espanhola. Muitas vezes aprenderam, à custa de ingentes prejuízos, da pilhagem de suas naus, da perda de suas fortalezas, o que, pode, com o denodo marcial, a força naval de batavos.Grande e invejável conquista foi que uma sociedade particular de comerciantes haja sujeitado ao seu poder vastíssimas regiões do Oriente; que ali dependam da sua vontade os cabedais de tantos indivíduos; que cause ela as alegrias e as tristezas dos povos; que tire a coroa aos reis e a coloque na cabeça de outros ; que, sob o seu império, cresçam umas nações e caiam outras; que a umas se conceda a liberdade, e a outras se arrebate ou cerceie.

Navegação da Companhia Ocidental para o Ocidente.

Por muito tempo tranqüilo, não tinha ainda o Ocidente experimentado, num desbarato notável, as armas holandesas. Entretanto, o povo neerlandês, estimulado pelos seus prósperos sucessos no Oriente, constituiu uma nova companhia com os cidadãos mais opulentos e também mais infensos à Espanha. Denominou-se "Companhia das Índias Ocidentais", porque se propunha tentar no Ocidente a sorte da guerra e do comércio. Reuniu-se para esta empresa soma considerável de capitais, superior àquela que inspirara confiança para se realizar no Oriente idêntico objetivo.

Discussão sobre a sua conveniência. Razões suasórias.

Os defensores da iniciativa aduziam estas razões: que as costas do Brasil estavam abertas e sem proteção contra o inimigo externo; que, apartadas das outras terras e atemorizadas com a fama dos nossos guerreiros, poderiam devastar-se com a improvisa chegada de nossas armadas; que as naus do rei, conduzindo no Pacífico os tesouros do Peru, bem como as da Nova Espanha e da Terra Firme, seriam do primeiro que delas se apoderasse; que as guerras européias eram feitas pelos espanhóis com essas riquezas, e por isso, espoliados delas, se tornariam aplacáveis e menos terríveis; que os percalços e despojos esperados bastariam para remir as despesas da guerra e dos mercadores; que só os réditos do açúcar já poderiam aliviar os gastos; que a natureza não era para os ocidentais mais madrasta que para os levantinos; que os silvícolas, impacientes